quinta-feira, 27 de outubro de 2011

PESQUISA SOBRE O PERFIL DA JUVENTUDE 2011 DO COLÉGIO ZARDO

Alexandro Muhlstedt

O importante é não cair em suspeitas estigmatizadoras,
que ensurdecem o diálogo, se falam entre si, mas não se escutam;
nem tampouco em idealiza-ções, que terminam em um monólogo, onde um se silencia admirado com o outro.
(Leiva, 2007. p. 50)
INTRODUÇÃO

Muitas vezes “fala-se dos jovens”, mas poucas vezes se “fala com eles”. Esta falta de diálogo com os alunos conduz a uma visão dos alunos altamente simplificada, que se traduz numa homogeneização em que desaparece a pessoa e se vê estritamente o aluno; a distinção dos alunos é baseada em estereótipos e na presunção de que os alunos só agem corretamente quando vigiados.
Hoje reconhece-se o valor da diversidade, mas não se aceita com facilidade a pluralidade dos jovens tratando-os como uma massa uniforme em que cada um deles carece de uma identidade própria (LEIVA, 2007, p. 36). Por isso, decidiu-se por organizar um perfil dos alunos que estudam no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, de Curitiba, para compreender melhor o universo desses sujeitos.
Assim, as informações que compõem a pesquisa que se segue é resultado da coleta de dados de 796 estudantes do Ensino Médio (1ª a 3ª série), entre 15 e 21 anos, distribuídos nos turnos da manhã, tarde e noite. Os dados foram coletadas no mês de agosto e tabuladas no mês setembro de 2011. O objetivo principal foi conhecer melhor alguns interesses da juventude que estudava no colégio naquele ano.
Foi organizada pela Equipe Pedagógica da escola, tendo como fundamento o levantamento de dados para compor o Projeto Político Pedagógico 2012-14. O instrumento utilizado – questionário - foi aplicada pelos alunos monitores de turma.
No dia 24 de agosto de 2011 os alunos monitores de todas as turmas do Ensino Médio Regular e Integrado, participaram de reunião, em seus respectivos turnos, com a Equipe Pedagógica, a qual repassou as orientações de como aplicar o questionário em suas turmas. Tratava-se de um questionário, composto por 08 perguntas, que deveria ser respondido por todos os alunos, em espaço de aula cedida pelo professor, e, em seguida recolhido e entregue aos pedagogos do turno.
Compreende-se que a importância de se conhecer com maior profundidade o que o aluno pensa da Escola e o que dela espera, bem como as suas aspirações, os seus códigos e os seus valores de referência, e, posteriormente, considerar estes dados como básicos, na elaboração de ações que contribuam para sua aprendizagem.
Ser aluno ou aluna não é só o desempenho de um papel, um exercício de um conjunto de direitos e deveres para estar numa posição determinada. Cada jovem vive a sua experiência de ser estudante de uma forma particular e atribui um sentido subjetivo próprio ao trabalho que realiza.
Por isso, torna-se importante conhecer quem são esses alunos, o que pensam, o que gostam, quais seus anseios.
As perguntas formuladas eram as seguintes:

(Questões aplicadas aos estudantes)

Em posse dos questionários respondidos pelos alunos de todas as turmas, a Equipe Pedagógica da escola, auxiliada por estagiários de Pedagogia da Universidade Tuiuti e funcionários da Secretaria da escola, tabularam os dados, digitaram e organizaram os gráficos.
Foi um trabalho demorado e minucioso, que exigiu muita atenção, tendo em vista o grande número: 796 questionários.
Segue o percentual das respostas ofertadas pelos alunos:


PERGUNTA 01
O que você mais gosta na escola?

(Gráfico 1: O que mais gosta na escola)

Ao serem indagados sobre o que mais gostam na escola, nota-se que mais da metade dos alunos gosta dos momentos de encontro (Amigos: 27% e Recreio: 24%). Isso deixa claro que os estudantes estão na escola mais interessados nas Amizades que no estudo propriamente dito. A escola acaba sendo um ponto de encontro e não exatamente local onde se estuda e se apropria de conhecimentos.
Talvez isso explique as observações de professores quando dizem os alunos “não querem nada com nada”. Apesar que 19% diz gostar de estudar, ou seja, a atividade escolar ainda é algo que desperta interesse em parcela dos estudantes.
Sabe-se que a tarefa pedagógica da escola é sócio-educacional e não terapêutica, deve inserir gradualmente o aluno na corrente dos conhecimentos e instrumentos produzidos pelos coletivos humanos e incorporá-lo à vida social, principalmente permitindo-lhe acesso a várias esferas da cultura. E isso acontece porque as forças do desenvolvimento estão no meio social, no encontro com outras pessoas, nas relações comunicativas e colaborativas.
Levando em consideração esse princípio, a educação escolar precisa abranger ações que promovam a participação ativa do aluno na vida social, o que vai muito além das propostas que até hoje se dirigem para melhorar a “socialização” do aluno e colocam o domínio de conteúdos escolares como objetivo secundário, se tanto. Dessa maneira, o aluno fica “de corpo presente” no ensino comum, na melhor das hipóteses avançando nas habilidades “sociais”, porém sem aprender ou aprendendo muito pouco.
Como se percebe pelas respostas de 27% dos alunos, a amizade é um elemento primordial na sua vivência escolar. Valorizar as vivências de amizade pode ser tanto uma forma de reafirmar a identidade, quanto possibilidade de questionamento de pontos de vista apresentados e entendidos como verdades pelos jovens. Afinal, a amizade possibilita enxergar os acontecimentos de diferentes perspectivas, através de trocas que contribuem para aprendizagem.
Segundo o dicionário Aurélio, amizade é “sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ou por atração sexual” ou ainda pode ser “estima, simpatia ou camaradagem entre grupos”. Em sentido amplo, a amizade é um relacionamento entre pessoas de fora dos laços familiares, baseado na confiança e no prazer de compartilhar experiências vividas, inclusive segredos e aspectos da intimidade pessoal.
É neste sentido que a amizade entre os adolescentes funciona como uma forma de se mostrarem ao mundo como sujeitos dotados de aspirações e desejos próprios, além de demonstrarem a necessidade de escaparem de identidades sociais já fixadas pela sociedade. Em um mundo que se apresenta com tanta diversidade as amizades acabam se tornando um encontro de iguais e, assim, formam-se os grupos que possibilitam a expressão de uma maneira mais espontânea.
Além da sala de aula, essas amizades se concretizam e se firmam nos momentos de recreio, sendo, portanto, um momento imprescindível na rotina escolar, destinado a possibilitar atividades prazerosas de caráter relativamente livre. Por serem atividades distintas das que ocorrem em sala de aula ou em outros horários da rotina acaba sendo o momento preferido dos jovens.
Escutar os alunos sobre suas amizades remete a tentar compreender outros temas como o respeito mútuo, condutas pró-sociais, intervenções por meio de procedimentos didáticos, como o trabalho em pequenos grupos, e a compreender que existem diferentes formas de representar a amizade.

PERGUNTA 02
O que você menos gosta na escola?


(Gráfico 2: O que não gosta na escola)


     De acordo com 25% dos alunos que responderam o questionário estudar é o que menos gostam na escola, sendo que 22% não gostam dos professores. Ou seja, a atividade precípua da escola, bem como o sujeito do ensino (professor) não despertam o gosto dos alunos. Pode-se inferir que, quando se trata de estudar, cumprir horários, respeitar o professor e ter disciplina isso gera rejeição e reflete, de certo modo, a situação atual da sociedade que privilegia o "jeitinho brasileiro" e despreza a pontualidade.
    As dificuldades de conviver com regras e limites vão sendo vivenciadas tornando as gerações futuras permissivas e fazendo "vista grossa" aos pequenos "delitos".
    Como se sabe, tanto adultos quanto adolescentes e crianças só aceitam que outra pessoa os ensine quando existe uma relação de confiança. O jovem só aprende com aqueles a quem delegou o direito de ensinar. E só dá esse direito a quem ele confia. É um processo inconsciente. E para estabelecer essa confiança, primeiro é preciso criar um laço afetivo. Se a convivência com o professor é ruim, o aluno começa a rejeitar o processo de aprendizagem e se torna indócil e desinteressado. Por extensão, deixa de gostar de estudar. Consequente, a escola deixa de ser um fato de desenvolvimento e aprendizado e passa ser um local de punição. 
PERGUNTA 03
Qual é a disciplina de sua preferência?


(Gráfico 3: Disciplina preferida)

A disciplina preferida (Educação Física – 34%) é aquela que se acontece, em sua maioria, fora da sala de aula, dando a sensação de maior liberdade aos estudantes.
A Educação Física tem uma vantagem educacional que poucas disciplinas têm: o poder de adequação do conteúdo ao grupo social em que será trabalhada. Esse fato permite uma liberdade de trabalho, bem como uma liberdade de avaliação – do grupo e do indivíduo – por parte do professor, que pode ser bastante benéfica ao processo geral educacional do aluno. Talvez seja um dos motivos pelos quais os alunos tem essa disciplina como a preferida.
Matemática e Química, disciplinas que tradicionalmente geram mais dificuldades aparecem como preferidas (14% e 9%, respectivamente) não exatamente pelo conteúdo destas, mas justamente porque os estudantes tendem a se esforçar mais para aprenderem, temendo a reprovação.
Isso se reflete no grande número de alunos com notas baixas em ambas as disciplinas. Caso gostassem de verdade, estudando pra valer, talvez não haveria esse fenômeno.

PERGUNTA 04
Que tipo de música você mais gosta?

(Gráfico 4: Estilo de música)

Dentre alguns fatores que influenciam nas atitudes de uma comunidade está a música, tanto pelo ritmo quanto pelas mensagens de suas letras. A música foi, e ainda é, instrumento marcante da hegemonia de uma cultura sobre outras, como base para esta afirmação. Desde os anos 50 tem havido a predominância das músicas internacionais (em especial as norte-americanas) sobre a cultura brasileira. Dessa perspectiva, entende-se que o estilo prefiro dos jovens do Colégio Zardo seja o rock (26%). No entanto, dois estilos tipicamente brasileiros, sertanejo (20%) e pagode (6%) aparecem na preferência dos alunos. Os outros estilos são todos internacionais.
A música tanto ajuda no desenvolvimento intelectual como no estímulo a criatividade e também na possibilidade de expressar nossos diversos sentimentos por meio dos sons.

PERGUNTA 05
O que você faz para se divertir?


(Gráfico 5: Diversão)

Em relação à diversão, foram bem significativas as escolhas por atividades com amigos (sair com amigos 36%, esportes 18%).
Permanecer conectado em redes sociais (18%), tocar instrumento musical (13%) e jogos (85) aparecem em seguida como possibilidades de atividades mais isoladas.
Entende-se que as atividades com o grupo de amigos, na questão de liberdade, representa o oposto do adulto (família, professor, vizinho) “limitador”; o amigo é aquele que estará junto para viver essa liberdade” que o jovem tanto deseja. Para o adulto (que pode até ser um amigo, mas normalmente é uma amizade restrita) fica a parte desagradável das limitações, que eles demonstram entender que são necessárias e aos amigos o desfrute da liberdade.

PERGUNTA 06
Qual é a pessoa de sua maior confiança?


(Gráfico 6: Pessoa de maior confiança)

Um amigo é a pessoa de maior confiança para 36% dos jovens, demonstrando o papel deste em suas vidas e confirmando a importância da amizade. Mãe (22%) e pai (16%) aparecem como figuras influentes em se tratando de pessoas confiáveis para os jovens.
A amizade entre os jovens surge como um “falar a mesma língua” e parece ser uma referência de descontração, lealdade, confidências de segredos e ajuda mútua.
Entre eles a relação fica em um nível de igualdade e parece não haver a cobrança típica do adulto. Assim, as amizades acabam se tornando um encontro de iguais e formam-se os grupos de jovens que possibilitam se expressar de uma maneira mais espontânea. Desse modo, a amizade é um relacionamento livre das exigências postas pela família ao indivíduo. Isso não significa que o constituir amizades não tenham participação da cultura, do ponto de vista da abertura dos indivíduos a esse tipo de laço, de restrições ligadas ao grupo de pertença dos sujeitos.

PERGUNTA 07
Qual é a maior dificuldade enfrentada pelos jovens?


(Gráfico 7: Maior dificuldade enfrentada)

Em relação às dificuldades e problemas enfrentados pelos jovens na atualidade, a pesquisa constatou que 30% aponta as drogas como fator que atrapalha a vida do jovem hoje.
Segundo o dicionário Houaiss (2004), vício é um hábito nocivo e incontrolável. O marketing realizado pelas indústrias do vício (álcool e tabagismo) capitaliza bilhões por ano, enquanto que na prevenção desses vícios, as cifras são quase irrisórias. O problema pode ser compreendido da perspectiva que a droga e o álcool podem passar a ser o outro com o qual muitos jovens se relacionam, tentando fugir da sensação angustiante de solidão e de falta de sentido. Embora a sensação do jovem que se droga ou bebe seja de onipotência, na realidade ela esconde um terrível experiência de impotência e um profundo esvaziamento do Eu, que, ao reaparecer nos períodos de abstinência, volta a alimentar de forma poderosa a necessidade de “fuga” para o consumo de produtos que ofereçam acesso aos paraísos artificiais.
Já 21% dos jovens que responderam à pesquisa tem o Bullying como principal problema.
A violência manifesta no ambiente escolar através de práticas como o “bullying” vem, paulatinamente, chamando atenção de diferentes setores da sociedade brasileira (governos, meios de comunicação, organizações não-governamentais, escolas, universidades), seja visando à identificação deste fenômeno, seja demandando intervenções para resolução do problema.
Sabe-se que a violência entre jovens, em sua forma física ou simbólica, não é um problema novo no cotidiano da escola. Esta muitas vezes compreendida como lugar de exclusão de grupos minoritários e de reprodução de situações de violência e discriminação (DEBARBIEUX, 2002, DUBET, 2004). Entretanto, por seu caráter multifacetado a violência escolar vem assumindo, contemporaneamente, novas dimensões e significados a partir de diferentes contextos sócio- culturais.
Para Fante (2005) a violência escolar nas últimas décadas adquiriu dimensão crescente em todas as sociedades, questão preocupante é a incidência de sua manifestação em praticamente todos os níveis de ensino. Neste sentido, uma forma sutil de violência que vem ganhando maior visibilidade no espaço escolar é o chamado bullying.
De um ponto de vista sócio-antropológico o fenômeno bullying emerge de ações discriminatórias por vezes dissimulada, tratando-se de um tipo de exclusão social capaz de oprimir, intimidar e machucar gradativamente (GUARESCHI, et al., 2008). Começa frequentemente pela não aceitação de uma diferença (FANTE, 2005), estabelecendo-se a partir daí relações desiguais de força ou violência simbólica (BOURDIEU, 2011) entre pares.

PERGUNTA 08
Qual é a maior dúvida / angústia entre os jovens?


(Gráfico 8: Maior dúvida e angústia entre os jovens)

O futuro (28%), a escolha da profissão (16%) e conseguir emprego (14%) aparecem como questões de angústias e indagações para os jovens.
Temer o futuro é tipicamente comportamento oriundo da ansiedade que é uma dificuldade íntima de lidar com o tempo. Há uma expectativa exagerada com relação ao futuro, seja positiva ou negativa. Quando o ansioso espera que algo bom aconteça, ele deixa que suas expectativas entusiasmadas tomem conta do seu dia-a-dia, mal podendo esperar o futuro chegar. Se, pelo contrário, o ansioso teme que algo negativo ocorra, ele se deixa tomar pelo medo e angústia, desejando que o futuro nunca chegue ou cedendo tempo mental para pensamentos temerosos e catastróficos. Esse temor acaba tomando maiores proporções quando o jovem é pressionado a escolher uma profissão e arranjar um emprego.
Realmente escolher uma profissão não é uma decisão fácil, mas algumas atitudes podem ajudar, o fundamental é conhecer as diversas profissões existentes no mercado, bem como especializações, ou seja, as diferentes opções que existem.
Para isso, buscar informações sobre uma profissão, não só no que diz respeito ao exercício da mesma, mas como está o mercado de trabalho, a faixa salarial para o profissional que a exerce, o campo de atuação profissional, como a mesma é aceita e inserida na sociedade, é fundamental.
Não há como prever todo o futuro só com a escolha da profissão, afinal, esta é um dos componentes de um projeto de vida, necessitando ter em mente que o mercado muda, as pessoas mudam. É preciso estar preparado para, muitas vezes, ter de ajustar o caminho.
A escolha da profissão implica uma dimensão temporal que precisa ser integrada e percebida pelo jovem, esse deve optar não só por um curso ou por uma atividade que poderá desempenhar no seu futuro trabalho, mas também por um estilo de vida, uma determinada rotina e ambiente de trabalho que fará parte da sua vida. É importante pesquisar a respeito das profissões, mercado de trabalho e dialogar com pessoas que exercem a profissão desejada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na sua totalidade, a pesquisa representou um passo importante para estabelecer o diálogo sobre a juventude que estuda no Colégio Zardo, subsidiando ações pedagógicas voltadas para esse segmento. Por isso, a perspectiva do levantamento foi servir de ferramenta na implementação de ações direcionadas aos jovens.
As informações revelam o que os jovens gostam e o que não gostam na escola, qual a disciplina favorita, o estilo de música, o que fazem para se divertirem, pessoa de confiança, medos, angústias e problemas típicos desse grupo.
Com isso, pretender ensinar um aluno, desconhecendo o seu modo peculiar de ser, seus gostos e interesses, significa não só ser incapaz de contribuir para o seu desenvolvimento, como por vezes, pode distorcer o seu crescimento, matando o gérmen de inúmeras capacidades e qualidades que poderiam ser cultivadas.
Todo aluno tem suas características pessoais, sua história de vida, seu ambiente familiar e social, que devem ser conhecidos, respeitados e compreendidos.
Compreender o aluno, aceitando-o com suas qualidades e seus defeitos, pode ajudá-lo a vencer suas dificuldades, integrar-se ao seu grupo, crescer e amadurecer com ética, como ser humano.
Ficou evidente, com esta pesquisa, que não considerar as peculiaridades do jovem, tem um efeito negativo no ambiente escolar e, em particular, na possibilidade de protagonismo dos estudantes.
Finalmente, a equipe do Colégio Zardo almeja ser uma instituição que acolhe o aluno, oferecendo oportunidade, não só para dar respostas, mas também para que participe nas suas decisões, facilitando a identificação com a instituição educativa e organizando um espaço mais adequado para o desenvolvimento da própria identidade do jovem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOURDIEU, P.; PASSERON, J. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
DAYRELL, J. A escola “faz” as juventudes? Reflexões em torno da socialização juvenil. Educ. Soc., Campinas, vol.28, n.100-Especial, p.1105-1128, out. 2007. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br Acesso: 16/07/2011.
DEBARBIEUX, E. Violência nas escolas: divergências sobre palavras e um desafio político. In: BLAYA, C., DEBARBIEUX, E. (org.). Violência nas escolas e políticas públicas. Unesco, Brasília, 2002.
DUBET, F. Sociologia da experiência. Instituto Piaget, Lisboa: 1994.
FANTE, C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência e educar para paz. 2 ed. Campinas-SP: Verus editora, 2005.
GUARESCHI, P. A., SILVA, M. R. (coord). Bullying: mais sério do que se imagina. 2 ed. Porto Alegre: EDIPUCRS,2008.
LEIVA, P. M. Os jovens e a crise da escola secundária. In: Cadernos Adenauer VIII, nº2. p. 25 – 50, 2007.
SOUZA, L. K. de; HUTZ, C. S. Amizade na adultez: Fatores individuais, ambientais, situacionais e diádicos. Interação em Psicologia, v. 12, n. 1, p. 77-85, jan/jun. 2008.
TORTELLA, J. C. B. Amizade no contexto escolar. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, 1996.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

UM OLHAR SOBRE O PEDAGOGO ESCOLAR: A atuação deste profissional no cotidiano do Colégio Zardo


Alexandro Muhlstedt

INTRODUÇÃO

O presente texto é resultado das atividades empreendidas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) em 2011. O GTR/2011 constitui uma das atividades da Turma do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE / 2010) e caracteriza-se pela interação a distância entre o Professor PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual, cujo objetivo é a socialização e discussão das produções e atividades desenvolvidas. O grupo no qual este foi elaborado teve como tema “O Pedagogo no desenvolvimento da práxis educativa no contexto escolar”. O principal objetivo foi oportunizar aos cursistas a participação em estudos e reflexões para a compreensão da práxis do Pedagogo para as mudanças significativas no processo educativo. Assim, apresenta pontos de vista sobre o pedagogo escolar, bem como a descrição de vivência pela Equipe Pedagógica do Colégio Zardo.


1. QUEM É O PEDAGOGO ESCOLAR


Desde que houve, por parte da classe e do governo, a efetivação do pedagogo como componente da equipe escolar na rede pública do Paraná, vem se discutindo o seu papel e as implicações de sua atuação na rotina escolar. Muito se diz, e vem sendo dito, sobre as incumbências do pedagogo na escola.
Ocorre que, muitas vezes, o pedagogo tem uma formação inicial deficitária, haja vista que, por meio de pesquisas institucionais, constatou-se que uma parte considerável dos estudantes de Pedagogia tem histórico de fracasso escolar. E esses estudantes concluem o curso e acabam atuando nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. E muitas vezes essa atuação tende a ser capenga, fragmentada, dissociada de fundamentação teórica consistente, consequentemente forçando a uma ação acrítica.
Nota-se no cotidiano da escola que existem pedagogos que nem sequer possuem noção de aspectos básicos da pedagogia para uma atuação adequada. Em encontros de pedagogos (reuniões técnicas, jornadas pedagógicas, formação continuadas, entre outras) ainda impera o senso comum, os discursos fofoqueiros de temas referentes a alunos e professores, as reclamações da falta de estrutura para trabalhar, as queixas da falta de condições mínimas, o acúmulo de tarefas e, consequentemente, por faltar espaço de tempo, a dificuldade em manter uma discussão teórica sem cair no mero espontaneísmo e a uma interpretação duvidosa do que seja a realidade escolar.
Desse modo, a equipe pedagógica da escola acaba não "resgatando" o trabalho competente e ético, nem constituindo a sua identidade de fato. Infere-se desses fatos que, por haver deficiência na formação, os profissionais desconhecem realmente quais as atribuições e competências do pedagogo. Há prevalência de cultivar as amarguras da profissão e as lamúrias de rotina desgastante, do que realmente fortalecer a dinâmica de trabalho desse profissional.
Percebe-se que é recorrente no discurso de pedagogos a expressão "apagar incêndio" para ilustrar a rotina de seu trabalho. Há que se considerar que é interessante e necessário haver uma definição adequada para essa expressão, uma vez que muitos pedagogos constituem sua identidade profissional "apagando incêndio", justamente por não conseguirem realizar de fato as atribuições que cabem a ele. Consolida-se desse modo um perfil de pedagogo somente analisando as atividades "apaga incêndio" e isso demonstraria a falta de posicionamento ético e realmente profissional, coerente e adequado. Por isso, junto com respeito e profissionalismo, é fundamental o reconhecimento e o fortalecimento de uma identidade como articuladores dos aspectos pedagógicos e humanos, trazendo clareza à função e dando a devida importância para a atuação no âmbito pedagógico.
Sabe-se que o papel do pedagogo escolar (da equipe pedagógica) é bastante claro e substancial na legislação. Quando se observa nas escolas públicas do Paraná, nota-se a presença do pedagogo em todas elas. E, se perguntar para qualquer diretor sobre a possibilidade de administrar a escola hoje, sem o pedagogo, certamente a resposta seria "não". Pois bem, a reflexão que se torna necessária é: a quem está servindo as ações do pedagogo que não são, a priori, de sua alçada? Afinal, é grande a quantidade de tarefas outorgadas ao pedagogo para as quais não é necessário ter formação em pedagogia para resolvê-las. São as ações "apaga incêndio" que impedem ou dificultam a atuação referendada em posicionamento profissional adequado.
Como se sabe, o trabalho do pedagogo está pautado nos princípios da gestão democrática e participativa, tendo como referencial teórico a ética profissional, a autonomia da escola, a atitude investigativa, a formação continuada e a escola como ambiente educativo. Desse modo, é importante estabelecer no interior da equipe pedagógica, elaborada por todos os seus membros, uma organização do trabalho pedagógico que fortaleça a ação profissional e crítica.
No caso da experiência que ocorre no Colégio Professor Francisco Zardo - Ensino Fundamental, Médio e Profissional, em Curitiba, na qual a equipe é constituída por 10 pedagogos, foi organizado o Plano de Ação da Equipe Pedagógica baseados nos seguintes itens:
1.Construção do projeto político-pedagógico,
2. Implementação do trabalho pedagógico no coletivo da escola (organização do espaço e tempo escolar e da prática pedagógica),
3. Formação continuada do coletivo de profissionais da escola,
4. Relações entre a escola e a comunidade e
5. Avaliação do trabalho pedagógico
A partir dessa organização, as tarefas do cotidiano foram distribuídas entre os membros da equipe, na qual cada pedagogo tornou-se responsável e referência para cada um dos aspectos do Plano. Desse modo, a teorização, análise e planejamento foram articulados com as ações de rotina, “apaga incêndio” e imprevistos.
Enfatizou-se sempre a linguagem em comum e as ações para os 03 turnos da escola e, para manter a unidade de discursos e ações, há reunião semanal, toda terça-feira, das 17h30 às 19h, juntamente com a direção e secretária (que registra em ata), na qual se discutem e se definem as ações da semana e do bimestre. Nesses encontros, ficam definidas ações de Conselho de Classe, Reunião de Pais, eventos da escola, Pautas de encontros pedagógicos com os docentes, partilha de experiências, organização do calendário bimestral, levantamento de soluções para os problemas pontuais, etc. Há uma dinâmica própria do grupo, na qual cada membro assume as responsabilidades e definição sua ação juntamente com seus pares. Desde o ano 2009 essa prática tem contribuído grandemente para fortalecer a identidade e ações dos pedagogos nessa escola.

2. EXPERIÊNCIA E REFLEXÃO

Ao longo dos anos de atuação na rede pública, tenho tido a preocupação de, por meio da minha ação pedagógica, melhorar a escola nos seus aspectos de ensino aprendizagem. Há um discurso recorrente de que a educação pública está péssima (e em alguns pontos tem razão), mas não posso ficar concordando com isso e não fazer nada. Por isso, juntamente com a equipe da qual faço parte, definimos bem onde estamos e aonde queremos chegar, com o fim principal de melhorarmos nossa escola e, consequentemente, nosso ambiente de trabalho.
Temos uma série de desafios e problemas no Colégio Zardo, mas temos conseguido superar muitos deles, dentre os quais os de violência, de drogas, de pichações e de indisciplina (ainda que existam, porém em escala menor que no passado recente). Ainda temos muito que melhorar, e o trabalho sério que temos empenhado tem contribuído para nosso maior entusiasmo para enfrentar a rotina. E é claro, o planejamento e a clareza de ações são a chave para que nosso trabalho seja percebido com o devido valor.
Como na minha escola somos 10 pedagogos, cada um com suas ideias, interesses, posicionamentos, direcionamentos, preferências, nos reunimos semanalmente para reforçar nossa unidade. Para melhorar nossa comunicação, temos o mural dos professores e da pedagogia, os e-mails e um blog, no qual publicamos informações que é para todos: conselho de classe, reunião de pais, atividades com alunos, textos de assuntos da pedagogia, notícias da escola ente outros. O blog é o www.pedagogiazardo.blogspot.com.
Com isso, fortalece-se a certeza de que um trabalho coeso, sério e ético possibilita que nos tornemos agentes ativos na construção de uma escola melhor, na qual todos fazem a sua parte e, somadas, essas partes colaboram para sermos mais felizes no trabalho.
Por fim, sendo o pedagogo escolar o profissional que domina as formas de organização dos conhecimentos constituídos historicamente e possibilita, por sua ação clara e coerente, o acesso à formação cultural e social, então nos resta fortalecer, enquanto equipe pedagógica, a identidade e as ações detalhadamente descritas no Plano de Ação da Equipe Pedagógica da Escola.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, o pedagogo sempre buscou seu "lugar ao sol", carecendo ainda de inúmeras ações para realmente provar a que veio. Nota-se, com certa angústia, o quanto o trabalho ainda é fragilizado e fragmentado por perceber que as teorias de organização do trabalho pedagógico ainda são baseadas num modelo ideal de educação, muitos vezes não aterrizando no chão da escola, com todas as suas contradições.
Infelizmente, as dores da prática na escola pública, deixadas de lado por serem senso comum ou simplistas, estão aí, conectadas há anos na pele da pedagogia, sem a devida importância. Por isso, acaba que não realizamos uma função para a qual tem-se a formação, e assume, pouco a pouco, a insensatez da realidade que retrata e reproduz na escola a tragédia social que se vive. Ainda bem que, pelo menos, tem havido espaço para partilha e busca de alternativas para construir realmente uma identidade.
Evidentemente, trabalhar em equipe grande é bem interessante. Há grandes desafios, como estabelecer consensos em determinadas questões e cuidar para que a linguagem em comum aconteça. Afinal, como no Colégio Zardo são 10 pedagogos, sendo também uma multiplicidade de ideias, de interesses, de posicionamentos, de direcionamentos, de preferências, de história e vinculação pessoal com a educação pública. Porém, as discussões e os acordos fazem com que se tenha uma unidade de ação e, assim, torna-se possível organizar tudo para fazer o trabalho pedagógico deslanchar como tem de ser. Os encontros que ocorrem às terças-feiras contribuem muito para isso.
Trabalhar sozinho é bem puxado e desgastante. Mesmo a escola sendo pequena, as obrigações de pedagogo devem ser cumpridas. Sendo sozinho, realmente o trabalho fica bem extenuante; ainda mais se tiver que cumprir outras funções. Acaba sendo um trabalho solitário. E seja como for, é sempre bacana ter por perto um companheiro para trocar ideia e tomar juntos a decisão nalgum caso com aluno, professor, família, etc. Seja como for, vale mesmo a postura clara e o trabalho sério do pedagogo para implementar as melhorias na escola.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PRESENÇA DOS PAIS NA ESCOLA: Atendimento, informação e formação para uma escola melhor

Alexandro Muhlstedt

A importância da participação dos pais na vida escolar dos filhos tem apresentado um papel importante no desempenho escolar. O diálogo entre a família e a escola, tende a colaborar para um equilíbrio no desempenho escolar, o que é possível considerar que a criança e os pais trazem consigo uma ligação íntima com o desempenho.
Tendo em vista essa premissa, desde 2009, optamos por reorganizar as ações referentes ao atendimento aos pais no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, em Curitiba..
Definimos 4 momentos anuais de encontro entre direção, equipe pedagógica e professores com os pais a fim de repassar informações gerais sobre a escola, "ensinando" pais e responsáveis sobre o funcionamento da escola, desde as regras do cotidiano aos alunos, até aspectos como avaliação da aprendizagem e recuperação de estudos. Ou seja, buscamos colocar os pais a par do Projeto Político Pedagógico e do Regimento Escolar.
Um outro momento definido aos pais é o encontro da Comissão de Pais sobre o PPP, onde pais, de diferentes turmas, discutem e apresentam opiniões sobre os problemas da escola e quais as possíveis intervenções.
Em 2009, iniciamos as pesquisas de coleta de dados, a fim de receber dos pais um feedback de suas percepções sobre a escola e assim, termos subsídios para o melhoramento do atendimento.
Na primeira pesquisa, perguntamos aos pais / responsáveis sobre aquilo que é importante na educação dos seus filhos quais são, na sua opinião, os principais problemas no Colégio. Participaram 458 pais / responsáveis e as respostas foram as seguintes:

Gráfico 1: O que é importante na educação escolar

Gráfico 2: Principais problemas no Colégio Zardo

Na segunda pesquisa, perguntamos sobre os melhores momentos para marcarmos reuniões de pais e responsáveis e qual o papel da escola. Participaram 965 Pais / Responsáveis.
Os dados podem ser observados no gráfico a seguir.
Gráfico 3: Melhor horário de Reunião de Pais

Gráfico 4: Principal função da escola

Na terceira pesquisa, já em 2010, questionamos sobre qual é o problema mais grave e que deve ser combatido pela Equipe Escolar. Participaram 879 Pais / Responsáveis.

Gráfico 5: Problema a ser combatido pela Equipe Escolar

Na quarta pesquisa, ainda em 2010, perguntamos sobre quais ações podem existir na escola para lidar com o problema da indisciplina. A primeira pergunta foi “Que sugestões pode nos oferecer para resolver os problemas de indisciplina, mau comportamento e falta de respeito na turma de seu filho?” E a segunda pergunta foi: “Que ações poderiam ser desenvolvidas aos alunos que continuam a causar problemas (que não cumprem as regras da escola, nem as obrigações de aluno)?”.
Também solicitamos informação sobre o ensino oferecido no Colégio.

Gráfico 6: Opinião sobre o ensino oferecido no Colégio Zardo

Em 2011, na quarta pesquisa, solicitamos informações sobre a saúde dos alunos.
Basicamente, nas reuniões oficiais, uma em cada bimestre, mantemos os pais informados sobre as rotinas da escola e solicitamos suas opiniões a respeito.
Nos momentos pontuais de presença dos pais, temos o atendimento cujos pais foram chamados a comparecer à escola ou que vieram espontaneamente conferir desempenho e rendimento dos seus filhos.
De modo geral, a comunicação dos pais com os professores tem sido incentivada por meio de bilhetes e solicitações na agenda escolar, ou caderno do aluno.
Esse modo, tendo em vista que temos uma comunidade de pais e responsáveis alfabetizados, torna-se mais fácil manter esse tipo de vínculo.
Compreendemos que os pais são os responsáveis legais e morais pela educação dos seus filhos. Parece razoável esperar que pais e professores sejam parceiros, pois querem o melhor para suas crianças: o sucesso escolar. A participação dos pais na escola, acompanhado de regras determinadas previamente em comum acordo, tem se mostrado muito importante. O apoio e a presença, atrelado ao conhecimento de como a escola funciona, colabora para um ambiente mais favorável para a aprendizagem.
Segundo López (2002, p. 75):"[...] a participação dos pais no sistema educacional, como toda participação social equivalente, tem a dupla perspectiva de colaboração e controle. Com a primeira se potencializam os recursos e as ações da escola, enquanto com o controle se estimula a melhora de qualidade da educação escolar."
Assim, baseados nas experiências anteriores, esperamos intensificar as atividades que envolvem pais na escola, a fim de tornar nosso ambiente cada vez mais propício para a construção do conhecimento.
Temos notado que os pais precisam trabalhar, e muito, para que possam atender as necessidades básicas da sua família, entretanto, precisam encontrar tempo livre para dividir com seus filhos, na elucidação de tarefas escolares, no lazer, descobrindo e transformando a personalidade e o caráter dos mesmos. O acompanhamento periódico dos pais na escola é fundamental para as mudanças no processo pedagógico e na cobrança de uma educação de qualidade.
A família deve, portanto, se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus filhos. Presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração. Deve estar atenta a dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais. Deve estar pronta para intervir da melhor maneira possível, visando sempre o bem de seus filhos, mesmo que isso signifique dizer sucessivos “nãos” às suas exigências. Em outros termos, a família deve ser o espaço indispensável para garantir a sobrevivência e a proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando (KALOUSTIAN, 1988).
Para as reuniões de Pais / Responsáveis definimos os procedimentos a serem implementados:
  • Encaminhamento de Comunicado escrito (informando dia, horário, local e assuntos a serem tratados) por meio de alunos. Tal comunicado deve retornar com a assinatura da família, inclusive explicando, no caso de não comparecer, os motivos da ausência.
  • Conferir durante toda a semana, por meio de assinatura dos alunos, o retorno dos comunicados. Garantir que todos os alunos apresentem o protocolo com assinatura da família (via agenda).
  • Levantamento de dados constando a quantidade de comunicados que retornaram, quantos pais comparecerão e quantos não virão e por quais motivos.
  • Definição de pauta comum e organização das salas aonde os pais serão recepcionados, sendo que a reunião serão conduzida pelos professores. Antes, porém, na quadra da escola, por 15 minutos, a Diretora geral dará as boas vindas e reforçará a importância da participação da família na vida escolar, bem como solicitar a adesão dos pais para auxiliar na melhoria do espaço escolar.
  • A pauta é composta por assuntos gerais, priorizando aqueles que explicam o funcionamento da escola: as regras gerais, o sistema de avaliação, a metodologia, as atividades previstas, etc. Evita-se “dar bronca” nos pais, fazer “jogo de culpa”, expor alunos, insistir no que ocorre de negativo.
  • Solicitar sugestões e opiniões dos pais, anotando o que for dito.
  • A realização, na sequência, do encontro dos professores e pedagogos tem como objetivo socializar e organizar as “falas” dos pais”. A partir daí, se estabelece o termômetro de pontos de vistas, opiniões e olhares dados pelas famílias àquilo que seus filhos estão vivenciando.
  • Implementação de questionário ao pais, perguntando sobre ensino, aprendizagem, educação e comportamento.
  • Tabulação dos dados e elaboração de gráficos a partir das respostas dos pais.
  • Reuniões para orientar sobre matrícula, Estatuto da Criança e do Adolescente - artigo 53.
  • Encontro, no turno da noite, para orientações sobre Estatuto da Criança e do Adolescente – artigo 129, atividades de último bimestre e entrega de boletins.
  • Encontro com os pais, no início do terceiro bimestre, onde Pais / Responsáveis e Alunos que não tenham obtido bons resultados nos 1º e 2º bimestres participam juntos de orientações para melhoria de desempenho e rendimento. Ao final do encontro, escrevem Termo de Compromisso e quais ações ocorrerão para a melhoria acontecer. Pais assumem o dever de acompanhar seus filhos, mediante comunicado por escrito, via agenda, com os professores das disciplinas de menor rendimento.
  • Aproximações e relacionamento com os pais em todos os momentos da escola, comunicando-se por meio de telefonemas e bilhetes escritos na agenda do aluno. Por isso, a organização de lista com números de telefones para comunicação com a família.
Com todas essas estratégias, pretendemos implementar cada vez mais, de modo organizado e claro, tanto o atendimentos e quanto as reuniões de Pais / Responsáveis.
Acreditamos que a parceria, uma vez estabelecida, reflete num maior empenho e envolvimento dos Pais / Responsáveis na educação escolar d seus filhos, nossos alunos.
Finalmente, na relação família / escola, um sujeito sempre espera algo do outro. E para que isto de fato ocorra é preciso que sejamos capazes de construir de modo coletivo uma relação de diálogo mútuo, onde cada parte envolvida tenha o seu momento de fala, onde exista uma efetiva troca de saberes. A construção dessa relação implica em uma capacidade de comunicação que exige a compreensão da mensagem que o outro quer transmitir, e para tanto, se faz necessário, a competência e o desejo de escutar o que está sendo expresso, bem como a flexibilidade para apreender ideias e valores que podem ser diferentes dos nossos.
Por parte da escola: respeito pelos conhecimentos e valores que as famílias possuem, evitando qualquer tipo de preconceito e favorecendo a participação dos componentes da instituição familiar em diferentes oportunidades, estimulando o diálogo com os pais e possibilitando-lhes, também, obter um ganho enquanto sujeitos interessados em evoluir e se aperfeiçoar e como seres humanos e cidadãos compromissados com a transformação da realidade.

Referências Bibliográficas

COLÉGIO ZARDO. Projeto Político Pedagógico, Curitiba: 2009.
GOKHALE, S. D. A família desaparecerá? In Revista Debates Sociais nº 30, ano XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980
KALOUSTIAN, S. M. (org.) Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNICEF, 1988.
LÓPEZ, J. S. Educação na família e na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2002.



terça-feira, 30 de agosto de 2011

CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE: Um perfil daqueles que são a razão da existência do Colégio Zardo


Alexandro Muhlstedt

Ao conferir a história da infância, percebe-se que é só na Idade Moderna que as crianças passaram a ser vistas como um ser social, assumindo um papel central nas relações familiares e na sociedade, tornando-se um de respeito, com características e necessidades próprias. É durante o processo de aquisição do conhecimento que a criança deve ser vista como um ser pleno, cabendo a ação pedagógica reconhecer suas diferenças e construir sua identidade pessoal. Para isso, é preciso pensar em formas lúdicas e criativas que possam estimular a criatividade e a imaginação da criança.
É através do lúdico, da brincadeira que a criança passa a conhecer a si mesma e o mundo que faz parte. O brinquedo ajuda na assimilação das regras de convivência e de comportamento. Outra preocupação que surge na modernidade é com relação aos estágios do desenvolvimento da criança, de acordo com os estudos de Jean Piaget. Tais como:
Sensório motor
Caracterizado pela ausência da função semiótica em que a criança não tem a capacidade de representar mentalmente os objetos.
Pré-operacional
A criança não adquiriu ainda a capacidade de colocar-se no lugar do outro, não possuindo o pensamento da irreversiblidade.
Operatório concreto
É um nível mental em que o indivíduo intervém nos raciocínios privados e nas trocas cognitivas. A linguagem passa a ser fundamental nesse processo.
Operatório formal
Nesse estágio a criança já pensa em soluções através de hipóteses e não apenas observando a realidade. É nesse estágio que ela atinge o padrão intelectual que terá na idade adulta.

O desenvolvimento e o processo de aprendizagem estão ligados ao meio social em que a criança vive e tem acesso aos materiais culturais. E é na escola que ela vivenciará trocas de experiências e aprendizagem ricas em afetividade e descobertas.
A afirmação de que a infância é uma construção social constitui um lugar comum na análise sociológica, psicológica e antropológica da infância. Nela condensa-se a ideia de que tem sempre havido uma fase da vida entre os seres humanos, e nela observa-se a sua diferenciação frente ao mundo adulto.  Isso pode ser constatado nos papéis sociais que são atribuídos a este grupo geracional, eles mudam conforme as variações sociais – classe social, grupo étnico, religioso, gênero, idade etc – porque são historicamente produzidos no interior de uma mesma sociedade (SARMENTO, 2001).
Há uma desestabilização das identidades culturais, deixando o indivíduo moderno fragmentado, com fronteiras pouco definidas, tal como preconizado por Stuart Hall (2004). Em contrapartida uma nova identidade vai sendo construída gradativamente, por intermédio de produtos destinados às crianças tais como brinquedos, filmes, artigos de moda, dentre outros. O sujeito-criança, seguindo esta linha de raciocínio, é reduzido ao corpo e torna-se consumidor. Essa compreensão dos fatos altera totalmente a noção de infância construída até então. Sobre essa transformação no entendimento do ser criança, Ghiraldelli Júnior nos esclarece brilhantemente acenando que:

Ser criança é ter corpo que consome coisa de criança. Que coisas são estas? Primeiro, coisas que a mídia define como tendo sido feitas para o corpo da criança. Segundo, coisas que ela define como sendo próprias do corpo da criança. Respectivamente, por um lado, bolachas, danoninhos, sucos, roupas, aparatos para jogos, etc, por outro, gestos, comportamentos, posturas corporais, expressões, etc. Ser criança é algo definido pela mídia, na medida em que é um corpo-que-consome-corpo (GHIRALDELLI JR., 1996, p. 38).

Nesta perspectiva, há uma mudança de foco, pois a infância deixa de ser uma fase natural da vida humana sendo, agora, um artefato construído, autorizado e ditado pela mídia. Esta, por sua vez, recria esta imagem da criança livre, protegida, feliz, deturpando e camuflando a verdadeira face da realidade. O que temos, na verdade, não passa de um simulacro da infância.
A criança contemporânea amadurece precocemente, dada as estimulações ofertadas no meio circundante. De notável inteligência e criatividade, precisam ser ouvidas e consideradas como parte integrante da sociedade. Mesmo tendo adquirido uma certa independência desde cedo, é inestimável o apoio, a proteção e o contato do adulto, auxiliando-a nas suas escolhas, na constituição dos princípios e valores baseados na justiça e na solidariedade, proporcionando a construção de um olhar crítico frente o mundo que nos envolve. Só assim estaremos preparando nossas crianças para viverem plenamente estes novos tempos.
E essa crise da infância pode ser provocada por alguns fatores que devem ser considerados. A produção corporativa da cultura infantil, em outras palavras, os artefatos da cultura produzido por grandes empresas especializadas, exercem uma forte influência na formação dessas crianças e merecem uma apreciação detalhada de pais e educadores. Ao examinarmos as pedagogias escolar e cultural, poderemos dar um sentido mais adequado ao processo educacional em vigência, preocupado com essas questões tipicamente contemporâneas e que interferem diretamente no processo de ensino e aprendizagem infantil.
Desse modo, cabe ao educador compreender a trajetória de desenvolvimento do conceito de infância e as suas atuais determinações em nossos dias, que encontra suas influências nos elementos da cultura e nos aportes midiáticos. Essa medida auxilia no oferecimento de uma educação imbuída de criticidade e capaz de trazer às crianças todas as oportunidades disponíveis para o seu crescimento, seja físico, social e intelectual. Somente assim, estaremos preparando nossas crianças para viverem esses novos tempos que se anunciam, carregados de novas necessidades, novas aspirações, novos desejos e novos desafios.
Sobre a adolescência e juventude, é importante entender, de início, a diferença que existe ente um e outro. Adolescência e juventude são frequentemente confundidas, quando não são usadas erroneamente como sinônimos. Segundo Coimbra (2005), “a noção de adolescência emerge vinculada à lógica desenvolvimentista, sendo uma etapa do desenvolvimento que todos passariam obrigatório e similarmente.” A adolescência é uma fase que se caracteriza por apresentar questões que lhes são típicas e pelas quais a maioria dos indivíduos se vê refletindo sobre como, por exemplo, a formação de uma identidade que lhe seja própria e estável, a escolha da sua carreira profissional, o seu posicionamento diante de sua sexualidade e os conflitos naturais que surgem com os pais diante dos desejos de independência – tanto financeira como em relação a poder ter suas próprias ideias. Logo, podemos perceber que “a adolescência surge como um objeto exacerbado por uma série de atributos psicologizantes e biologizantes” (Coimbra, 2005). Isso acontece porque as mudanças que surgem nesse período estão diretamente relacionadas à chegada da puberdade e às suas consequências; o que desencadeia processos de construção de uma nova autoimagem e identidade.
O mesmo autor nos faz pensar na juventude como um conceito que pode ser visto como uma construção social, assim como pode também ser capturado e instituído. Dessa forma, ele introduz que “o conceito de juventude nos faz pensar no sujeito como um ser constituído e atravessado por fluxos, devires, multiplicidades e diferenças” (Coimbra, 2005).
Relacionando-se adolescência e juventude, as diferenças ficam bem claras. Segundo Janice Sousa (2006), “o jovem se dimensiona individualmente e sob a influência de aspectos psicossociais, num percurso de (in)definições: busca identitária, tendência de estar em grupo, deslocamento constante de situações e vínculos, atitude de contestação e insatisfações sociais, intelectualização dos fatos, mudanças de humor, separação do universo familiar, questionamento dos valores sociais, fatores que se desenvolvem em pleno vigor na adolescência.” Dessa maneira, entende-se que as características da juventude são exatamente as indefinições que quem está passando por ela vivencia. À medida que alguns desses fatores vão sendo superados, “a continuidade das (in)definições se mantém como crise e conflitualidades provocadas na debilidade dos rituais de passagem, no descrédito dos lugares institucionais tradicionais que tornam mais difíceis as escolhas e definições dos jovens diante dos papéis a serem assumidos como projeto de vida adulta; diante das desigualdades sociais e das violências que, para muitos, estão presentes em suas próprias vidas; nas dificuldades no ingresso no mercado de trabalho” (Sousa, 2006). Neste segundo momento, já se percebe que as indefinições da adolescência vão ficando, cada vez mais, atravessadas por questões sociais; perdendo, gradativamente, o seu caráter mais individualista e pessoal. Porém, vale ressaltar que, se esses aspectos conceituam as juventudes, por outro lado, eles não permitem homogeneizá-las. Já que tudo deve ser analisado considerando-se um contexto social e um momento histórico.
De maneira resumida, pode-se considerar que “ser jovem é viver um ‘contato original’ com a herança social e cultural, constituído não apenas por uma mudança social, mas por fatores biológicos” (Sousa, 2006). Sendo assim, a experiência dos jovens é o fator propulsor da dinâmica da sociedade. E, muitas vezes, é o canal de introdução de mudanças na sociedade. As pessoas que se encontram vivendo a sua juventude são aquelas que movimentam novas ideias no meio em que vivem. São os jovens que, por terem acesso às experiências dos seus antecessores e por terem a disponibilidade de uma vida inteira pela frente, podem aproveitar o conhecimento que existe sem o peso da responsabilidade sobre a construção que foi feita do mesmo e, a partir dele, introduzir novidades no seu ambiente.
Como tema de interesse dos grupos de universitários de diferentes áreas, o estudo da juventude adquiriu fôlego após o final dos anos 80. No Brasil, somente no final dos anos 90, os jovens passaram a ser um alvo importante das políticas públicas. E é através do histórico das políticas públicas para a juventude que podemos perceber como esse conceito foi mudando prática e teoricamente.
É, no final do século XIX, que surgem as primeiras ações públicas destinadas a crianças e adolescentes, com foco no atendimento de órfãos. Em seguida, a atenção foi dada a crianças desamparadas, para que se integrassem ao mercado de trabalho evitando a sua desocupação. Se, até os anos 30, a abordagem predominante – ou mesmo exclusiva –voltava-se à infância e à adolescência, na década de 40, os jovens passaram a ser objeto de atenção, como resultado das exigências do mercado quanto à formação e qualificação da força de trabalho. É nessa época que se cria o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). O objetivo era então o de capacitar os jovens para o seu ingresso no mercado de trabalho. Com o fim da II Guerra Mundial, surgiu a necessidade de Direitos Humanos. A partir de então, iniciou-se um processo de reconhecimento dos direitos de crianças e adolescentes, que permaneceu interrompido durante a ditadura militar brasileira. Com o fim desse regime, voltou-se a pensar na situação do menor. Na década de 90, a criança e o adolescente passaram a ser vistos como sujeitos de direito – o que levou a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Atualmente, as políticas públicas se dividem entre as que visam encaminhar os jovens para o mercado de trabalho e as que visam recuperá-los (defasagem de conduta e da educação) para inseri-los no mercado de trabalho.
É interessante se pensar que as juventudes não são suscetíveis de comparação, pois, ao viverem em épocas históricas diferentes, têm definidos seus conflitos e vivência social de maneira também diferente” (Sousa, 2006). Porém, ao contrário do que comumente se pensa, a falta de experiência dos jovens significa um alívio do fardo para os jovens; pois facilita a vida deles no momento de transformação. É no período da juventude que as forças formativas estão começando a existir e, por isso mesmo, se pode aproveitar mais facilmente o poder modelador de situações novas. Sendo assim, o jovem é aquele que pode aproveitar o conhecimento já adquirido pelos seus antecessores sem as marcas que essa aquisição e construção de saber trouxeram. Dessa forma, o jovem fica mais livre para ter ideias novas e melhores que as anteriores. Por isso, que o jovem é considerado o fator de introdução de mudanças na sociedade.
A juventude no Brasil está dividida em duas fatias: a fatia em condição social de extrema carência (os excluídos) e a fatia em condição social favorável (os incluídos). O referencial normatizador da juventude é o consumo. Esse é o critério que determina se a pessoa vai se enquadrar no grupo dos excluídos ou dos incluídos. Embora o jovem seja considerado, pela publicidade, um alvo em potencial para o consumo, o Estado não consegue fazer com que essa posição de consumidor se concretize. Como consequência disso, vemos a marginalização e a criminalidade. E para os que não fazem mais parte da juventude, resta o olhar nostálgico sobre ela. É então que, através da lógica de mercado, busca-se recuperar a juventude num processo de identificação com os valores dos jovens.
Comumente, surge um conflito entre as diferentes gerações. Afinal, da mesma maneira que os velhos têm interesse em remeter os jovens a sua juventude, os jovens também têm interesse em remeter os velhos a sua velhice. Há períodos em que se intensifica a procura do "novo", pela qual os "recém-chegados" (que são também, quase sempre, os mais jovens biologicamente) empurram os "já chegados" para o passado, para o ultrapassado, para a morte social ("ele está acabado"). Estamos aqui, no auge da luta entre as gerações; pois, é nesse momento que as trajetórias de ambos se chocam: quando os jovens aspiram "cedo demais" à sucessão. Essa fronteira entre juventude e velhice é muito relativa, sendo construída socialmente na luta entre jovens e velhos; já que as relações entre idade social e idade biológica são complexas e o número de anos que uma pessoa já viveu tem um significado que lhe é próprio.
No campo de trabalho, é comum encontrar dois estados do sistema escolar em confronto no mercado de trabalho. Enquanto os velhos têm mais experiência, os jovens estão chegando co m mais títulos. Essa tensão cria, frequentemente, uma situação desfavorável ao jovem que, mesmo bem qualificado, sente que não é bem-vindo no seu local de trabalho ou até mesmo quando está buscando um emprego.
Outra questão sobre a inserção do jovem no mercado de trabalho é o status que isso lhe traz. “Ainda hoje uma das razões pelas quais os adolescentes das classes populares querem abandonar a escola e começar a trabalhar muito cedo, é o desejo de ascender o mais rapidamente possível ao estatuto de adulto e às capacidades econômicas que lhes são associadas: ter dinheiro é muito importante para se afirmar em relação aos colegas, em relação às meninas, para poder sair com os colegas e com as meninas, portanto para ser reconhecido e se reconhecer como um ‘homem’.” (Bourdieu, 1983). Isso só vem confirmar o que já foi dito anteriormente: o referencial normatizador dos jovens é, realmente, o consumo.

O perfil das crianças, adolescentes e jovens estudantes do Colégio Zardo

Assim, a partir desses pressupostos é que debruçamo-nos a estabelecer um perfil dos estudantes do Colégio Zardo, na tentativa de compreendê-los a partir das características gerais percebidas no cotidiano escolar. De modo geral, notamos que os alunos têm consciência da situação em que se encontram e são cientes das dificuldades de aprendizagem dos conteúdos. Porém, não conseguem mudar seus hábitos, que na maioria dos casos já se tornaram parte dos mesmos. Pensamos que eles teriam que demonstrar atitudes relativas a uma mudança, saírem dessa passividade, dessa falta de iniciativa, dessa desmotivação que atrapalha tanto o desempenho. Ao disso, encontramos também os conflitos de relacionamento que surgem no cotidiano da sala de aula. Percebemos as dificuldades das relações interpessoais entre eles mesmos, com os professores e os funcionários. Isso reflete-se através da indisciplina, da quebra das regras estabelecidas, do desrespeito ao patrimônio escolar, do mau uso dos livros didáticos distribuídos no início do ano (sendo que muitas vezes são esquecidos em sala de aula e nunca mais são procurados), das agressões físicas e verbais.
Diante disso tudo, não podemos perder a esperança, nem desistir de investir e de acreditar no potencial dos alunos. Afinal, existem excelentes alunos, que são interessados, cumpridores de suas responsabilidades, participativos, críticos, assíduos, respeitosos, que valorizam os professores, possuidores de personalidades sociais que sabem interagir entre eles, professores e funcionários.
Deve-se levar em conta ainda as diversidades sócio-econômica-culturais que existe em, nosso colégio, pois são três turnos com características próprias e peculiaridades bem distintas. Durante o dia (nos turnos da manhã e da tarde) os alunos que trabalham (a maioria garçom que atuam à noite) possuem certa disposição para as aulas e para realizar os trabalhos escolares. Já para os estudantes do noturno a realidade é bem diferente: são alunos que trabalham durante o dia em serviços pesados e braçais, que exigem muito esforço físico e isso acaba gerando cansaço, falta de interesse, sono durante as aulas e faltas consecutivas à escola. Isso, comprova, de certa forma, as dificuldades apontadas no início.
Assim, essa realidade e essas observações nos levam a compreender que os problemas têm motivos, que nada surge do nada. Com isso tudo, juntos, estamos batalhando, trabalhando em conjunto, fazendo o levantamento dos problemas e buscando as soluções.
Por meio do envolvimento e do comprometimento de todos, muitos dos problemas diagnosticados já estamos revertendo e nós, professores, temos muita boa vontade e almejamos mudanças para que nosso trabalho seja reconhecido e nosso aluno aproveite, por meio de aprendizagens concretas, cada instante que estiver em nossa escola.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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