quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A ESCOLA E OS PAIS: Relato de uma experiência de comunicação via e-mail

Alexandro Muhlstedt

Na função de Diretor auxiliar do turno da tarde no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, localizado no tradicional bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, desenvolvi uma atividade de comunicação com os pais via e-mail. A ideia nasceu a partir do Show de Talentos, ocorrida no final do mês de agosto de 2012, na Semana de Integração Família e Escola, no qual os pais realizaram apresentações artísticas aos alunos do turno da tarde. Nessa atividade surgiu a ideia de manter contato mais próximo com as famílias, de modo mais eficiente: a troca de mensagens via e-mail com intuito de estreitar as relações e facilitar a comunicação.
No mês de setembro realizei, juntamente com a Equipe Pedagógica, Professores e Alunos monitores de classe, o levantamento dos e-mails dos pais dos alunos do turno da tarde. Essa lista propiciou o envio de informações e esclarecimento de dúvidas, num canal aberto e direto, entre a escola e os pais.
No mês de outubro tive a ideia de enviar um pequeno texto para o e-mail das famílias cadastradas no grupo como forma de fomentar a leitura e a reflexão sobre um tema educacional. O texto foi enviado no dia 24 de outubro de 2012 e tinha como título: “Aescola hoje e os alunos que não aprendem” de autoria de Roberto Leal Lobo e Silva Filho, publicado originalmente no Jornal Folha de São Paulo, em 23 de outubro de 2012. Trata-se de um ponto de vista em que o autor, professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP e ex-Reitor da USP, presidente do Instituto Lobo, expõe de modo bastante lúcido a necessidade de questionar alguns paradigmas da educação brasileira, que muitas vezes impedem a real aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.Entre várias passagens, o autor menciona o livro “A Escola dos Bárbaros” de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado em 1987. Segundo as autoras, a falta de disciplina nas escolas reflete uma sociedade que “adota o prazer como o ideal, em todas as direções - para tal sociedade, o objetivo da civilização é se divertir sem limites”. Ou seja, a escola teria desistido de conduzir os jovens à vida adulta.
O autor então, defende a destruição de alguns paradigmas na educação escolar como a qualidade do trabalho em grupo; afrouxidão e a permissividade em vez de disciplina e cobrança; a valorização dos pesquisadores de banalidades; entre outros, deixando o questionamento sobre a necessidade do estudo persistente e a valorização do conteúdo.
Para minha surpresa, inúmeros pais enviaram respostas sobre as reflexões realizadas a partir desse texto. Com isso, percebi que aquela forma de comunicação poderia ser um modo fecundo de conhecer os pontos de vista das famílias sobre a educação e sobre como a escola desenvolve seu trabalho.

Muito bom esse texto e retrata realmente o que as escolas estão passando hoje em dia... Deve ser muito difícil para os professores terem que "educar" as crianças quando o trabalho deles deveria ser o de "ensinar", pois acho que a educação deve vir de casa... Infelizmente, as pessoas estão cada vez mais mal educadas e por qualquer coisinha discutindo umas com as outras e as crianças achando que isso é normal! (…) Admiro a forma como vocês vem tratando de vários assuntos nas reuniões e o trabalho que vem sendo feito para melhorar a escola.
(Sra. Deise Cristina Caron)

Acho muito importante a participação dos pais nesta fase escolar onde estão desenvolvendo caráter e suas companhias são muito influenciadas. Converso muito com minha filha e acho muito importante a presença dos pais na escola.
(Sra. Juliana da Cruz)

Em relação ao texto teria muito a comentar, pois o assunto e polêmico,  acredito também que a educação está em crise, a família está em crise .....o que vemos hoje noticiados nos jornais e TV nos revolta mais. Como brasileira acredito que tudo pode mudar  se cada família cuidasse  melhor de seus filhos, não tendo medo e nem vergonha de serem pais quadrados e ultrapassados, temos que mostrar para nossos filhos que estamos atento a tudo o que fazem , sendo mais enérgico nas cobranças de suas obrigações mostrando a eles que sem dedicação  nada sai bem feito , e que o maior patrimônio é o conhecimento. Também  temos que sempre ser bons exemplos, não e tarefa fácil hoje criar um filho mas não podemos desistir, relaxar, deixar que outros os façam. A obrigação da criação e da educação é dos pais. Cada uma fazendo a sua parte, teremos homens e mulheres de bem.(...)
(Sra. Scarleth Lara Hein Stival)

Quanto a sua mensagem é uma pena que o ensino está chegando a esse ponto, ele está se tornando precário. Em uma sala de aula com 35 alunos são poucos que se salvam com vontade de estudar, sempre falo para o meu filho que ele tem que ter vontade própria para ir à escola, não forço ele à nada apenas converso e muito com ele. Ele sabe que mais tarde ele tem que ter uma profissão e que a escolha vai ser dele, e assim ele tem que ser bom aluno que o currículo escolar é a base de tudo e o aprendizado na escola é muito importante então falo para prestar atenção na sala de aula. Em casa existem regras, hora de brincar, de estudar, no computador, no videogame, de comer e de descansar. Ele sabe de tudo. Tem dias que ele reclama e muito da bagunça da sala de aula, ele tem faltas na chamada mas o professor não ouve ele responder, ele também comenta da falta de interesse dos alunos não estão nem aí para nada. (…) Acho que para ser bom aluno hoje em dia o pai tem que estar muito presente, cuidando, dando atenção e a par de tudo que acontece na escola.
(Sra. Maristela Guimarães)

Em primeiro lugar, parabéns pela atitude de vocês para manter contato com os pais, pois os problemas da escola estão cada vez mais ligados às dificuldades de aprendizado e à qualidade de ensino das escolas. Com relação ao texto, a escola de hoje está utilizando e recursos para evitar a evasão escolar e manter os alunos fora de riscos do contato com drogas. Dessa forma é que se perde o foco das disciplinas devido ao desinteresse do aluno ao estudo pela falta de cobrança das próprias famílias. A escola não pode fazer as duas partes, o interesse pelo estudo deve iniciar dentro de casa com acompanhamento e diálogo.
(Sr. Homero)

Parabenizo a todos que tiveram a iniciativa do contato via e-mails, uma atitude muito positiva, pois em uma atualidade onde o tempo é muito curto, essa distância entre pais e escola fica reduzida com tal conduta. Muito bem colocado o texto em questão, sempre fui adepta da frase que 'o mal só existe, porque os bons não fazem nada', ou seja de uma maneira geral o que tenho visto é simplesmente pessoas fechando os olhos para os problemas (para que confrontar se podemos, desviar), e , essa postura é geral, mas ela se torna imperdoável com relação aos nossos filhos/alunos. Vejo pais deixando aos professores, responsabilidades que não há, e da mesma forma, vejo professores passando à equipe pedagógica  e diretoria responsabilidades em excesso...Me refiro de uma forma geral, não especificamente a uma instituição de ensino, infelizmente muitos dos bons valores vem se perdendo pelo caminho da educação, e é óbvio que de onde deveria vir o maior apoio e atitudes que fariam a diferença, não há o menor interesse, me refiro aos nossos respeitáveis dirigentes, respeitáveis e  espertos (para que educar uma nação, se manipulá-los é muito mais lucrativo)... Mas acredito que precisamos encontrar um caminho, nós, precisamos nos comprometer com uma causa e começarmos(...)
(Sra. Maria Cristina Mayer)

A escola é a segunda casa dos alunos e também dos professores, deveria ao menos ser respeitada. Existem muitos alunos que não estão nem ai para os estudos, enfim não estão nem aá para a vida. Também temos professores que muitas vezes não se preocupam com o ensino, só que saber do 'emprego e salário no final do mês'. Enfim professores fazem de conta que ensinam e alunos fazem de conta que aprendem. Não adiante só cobrar do estado, se a família não faz seu papel, que é dar educação de berço e principalmente respeito. Vocês profissionais do Colégio Zardo estão de parabéns pelo estilo de ensino, sempre conversando com os pais em reuniões, fiscalizando os alunos inclusive na entrada do colégio; mas enfim quando lidamos com pessoas, principalmente os jovens sempre é difícil porque eles sempre acham que são donos da verdade. A escola está ai acessível para quem quer aprender, basta o aluno querer aprender, ou não, mas as vezes a vida acaba ensinando que forma mais cruel.
(Sr. Jociel Ruppel)

Recebi seu e-mail, acho que tem sim que impor limites aos alunos, se eles fazem o que querem agora o que farão no futuro? Nem todos irão conseguir trabalhar com o que gostam. Vão ter que sempre obedecer alguém, hoje pais e professores, amanhã o patrão ou o cliente.... De qualquer forma há limite para tudo na vida, existem regras, leis e obrigações... Quando se tem a idade deles, achamos que tudo que estudamos é inútil, já passei por isso, hoje vejo isso no meu filho, porque ele não está pensando no futuro, só no que é divertido agora... Quando vamos tendo mais experiência de vida, aí sim damos mais valor no que já passou, daí que diferença isso faz? Já passou, não dá para voltar no tempo, a única coisa é tentar passar o que aprendemos aos nossos filhos os quais não estão interessados. Eu acho que a escola pode continuar sendo como antes, mas de uma maneira que envolva os alunos, o professor interagindo com eles e não simplesmente só falando sem que eles entendam o assunto.  (…) Não adianta deixar o aluno fazer o que quer, ao mesmo tempo o professor não precisa ser alguém que eles tenham medo, mas sim respeito e admiração...
(Sra. Elisangela)

Adorei a ideia de mandar estes e-mails, li e gostei muito,inclusive quero ler este livro que é citado. Também concordo com o que diz no texto. É  muita frouxidão mesmo, a culpa é da nossa geração que foi cobrada, e que achava isso chato, não querendo fazer o mesmo com os filhos estragamos muito deles, demos demais e cobramos pouquíssimo, e acho que vai levar muito tempo para isso ser consertado”.
(Sra. Raquel)

Infelizmente a qualidade no ensino é algo questionável,  também a falta de interesse e comprometimento da parte dos alunos, pais e até mesmo dos professores. Talvez o erro esteja em cada "um" deixar de fazer a sua parte. Onde o aluno deveria ser aluno, e se preocupar em aprender. Onde os pais deveriam ser pais e orientarem seus filhos, ensinarem seus filhos o significado da palavra "respeito" pelo professores, pelas pessoas que trabalham na escola, pelos seus colegas de classe, e principalmente por si mesmo. Onde os professores também deveriam fazer a sua parte, honrar a sua profissão, que fora escolhida a dedo dentre tantas outras profissões e se preocuparem não somente com o aumento dos seus salários, mas com  o resultado do seu  bom trabalho. O problema é que o Brasil é totalmente capitalista, e as pessoas são individualistas. Costumam se unir somente em função do dinheiro. O pai se preocupa em pagar a escola (quando particular), ou se preocupa com que o filho vá para a escola mas muitas vezes nem tem a certeza de que ele realmente foi, ou nem sabe como anda a aprendizagem, as notas, por não ter o hábito de separar um tempo para as reuniões do colégio. O aluno se preocupa em ter "objetos" iguais aos dos seus colegas, em ganhar celular, computador, mas acabam esquecendo a regra básica do respeito e educação, que é a de saber usar no momento devido e não no momento em que bem entendem, vindo a atrapalhar a aula, passando por cima da autoridade dos professores e as vezes até contando com a proteção excessiva dos pais. Esquecem a sua função de aluno, a de aprender, adquirir conhecimento para o seu próprio beneficio. E os professores muitas vezes sabem que o conteúdo não é o melhor, que os métodos de ensino impostos pelo governo, não é o mais adequado, mas assim como o aluno, como os pais, como tantas outras pessoas no mundo, acabam cruzando os braços porque o interesse prioritário é lutar por causas individuais.
(Sra. Josiane Tulio)

Concordo com o texto, de um modo geral o que interessa é estar na escola, a maioria dos pais não se preocupam com o que os filhos estão aprendendo, se realmente estão aprendendo, acham que o fato de estarem frequentando as aulas já é o suficiente. Particularmente acredito que deveria haver mais cobrança, acompanhamento por parte dos pais, que realmente os estudos fossem levados a sério, fosse um compromisso entre pais e filhos, não como uma obrigação árdua, mas que os pais tentassem despertar o interesse dos filhos em estudar, em alimentar-se de conhecimento...em muitos momento da vida nos surgem dúvidas de como escrever, como falar, como agir, e este período escolar é o momento em que os alunos deveriam carregar-se destas informações, tirar suas dúvidas e com auxílio da família carregar sua bagagem intelectual para vida... Quem leva os estudos a sério tem maior facilidade para viver, pois cada matéria, além de suas funções profissionais também trazem respostas de comportamento para o dia a dia,a escola é um complemento para a educação, para formar não apenas conhecedores das disciplinas, mas de seres humanos melhores. Tento acompanhar meus filhos, auxiliando-os, incentivando, pois é a minha função, no mundo atual que vivemos existem muitas coisas que dispersa o interesse nos estudos e cabe a nós pais resgatar a importância disso”.
(Sra. Tatiany Miola)

O texto é um incentivo e ao mesmo tempo uma cobrança de pais alunos e professores, faz uma crítica ao modo como os pais estão educando os filhos e ate mesmo a forma que os professores tratam os alunos. Hoje em dia tem muitos pais que não querem saber de ajudar os filhos de ensinar, acham que é só largar na escola que os professores vão cuidar e educar. Mas não é bem assim, temos que conversar muito com os filhos, impor regras. Tenho dois filhos, tento passar para eles a educação que recebi dos meus pais, e hoje em dia os alunos não tem a mesma força de vontade de estudar como antigamente. Mas por outro lado o texto mostra a qualidade do trabalho em grupo, as atividades sociais.
(Sr. Carlos Santi)

Diante disso, a iniciativa mostrou-se peculiar em receber as opiniões dos pais, os quais puderam, além de opinar sobre o texto, também apresentar suas reflexões sobre a educação como um todo. Essa aproximação, e essa relação mais próxima, contribui grandemente para articular ações na escola que levem em consideração o que pensam os pais e o que esperam da educação escolar para seus filhos.
Nesse ponto, torna-se possível articular com mais cumplicidade um plano de atividades e um conjunto de metas em que todos os posicionamentos poderão ser considerados, neste caso, a opinião, os anseios e as expectativas das famílias.
Partindo do princípio que cabe à família o papel de cuidar e educar bem as crianças e a escola cabe cuidar da educação formal (sistemática) e promover o desenvolvimento físico, social, intelectual, emocional, moral e afetivo dos alunos é que busquei desenvolver a integração de ambas as instituições (família-escola) utilizando, além de outros meios, também essa forma de comunicação: a troca de informações e esclarecimentos de dúvidas pelo e-mail.
Finalmente, aproximar-se das famílias dos alunos, interagindo e criando espaços alternativos de diálogo, considerando o problema dos pais em comparecer com mais frequência à escola, é uma ação fundamental que contribui para a melhoria no desempenho, no rendimento e na aprendizagem do aluno. Eis o grande objetivo da escola!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AQUINO, J. G. A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de Educação. v. 24, n. 2, São Paulo, jul/dez. 1998a.
DIOGO, J. Parceria escola - família: a caminho de uma educação participada. Porto: Porto Editora, 1998.
MALAVAZI, M. M. S. Os pais e a vida escolar dos filhos. 2000. 320 p. Tese (Doutorado em Educação). Campinas: Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, 2000.
OSÓRIO L.C. A família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
PARO, V. H. Administração escolar e qualidade de ensino: o que os pais ou responsáveis têm a ver com isso? In: BASTOS, J. B. (Org.). Gestão democrática. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A: SEPE, 2001. p. 57-72. (Coleção O Sentido da Escola).
SILVA FILHO, R. L. L. A escola hoje e os alunos que não aprendem. In: Jornal Folha de São Paulo, 23 de outubro de 2012. Disponível em:http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/73507-a-escola-hoje-e-os-alunos-que-nao-aprendem.shtml



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