sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Donald Schön


Nasceu em Boston / EUA, 1930 e faleceu em Boston / EUA, 1997. 
Foi um filósofo e pedagogo estadunidense que estudou sobre a reflexão na educação. Foi professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) de 1968 até sua morte. 
Estudou em Yale, na Sorbonne e em Harvard. Lecionou Filosofia na UCLA e na Universidade do Kansas antes de integrar a conhecida empresa norte-americana de consultoria Arthur D. Little; mais tarde trabalhou no Departamento de Comércio dos Estados Unidos da América tendo chegado a presidente da Organização para a Inovação Social e Técnica do MIT. 
Foi pioneiro no desenvolvimento do conceito de "ciência-ação", uma abordagem investigativa da gestão para lidar com problemas e erros nas organizações Da sua obra escrita, destacam-se os livros "Organizational Learning: A Theory of Action Perspective" e "Theory and Pratice: Increasing Professional Efficiency", ambos escritos em co-autoria com Chris Argyris. 
As suas ideias têm tido muita influência no campo educacional, designadamente nas pessoas interessadas na formação de professores. O trabalho que desenvolveu tem sustentado as posições dos que, como Kenneth Zeichner, defendem a emancipação do professor como alguém que decide e encontra prazer na aprendizagem e na investigação do processo de ensino e aprendizagem. 
As ideias de Schön sobre o desenvolvimento do conhecimento profissional baseiam-se em noções como a de pesquisa e de experimentação na prática. A designação “professional artistry” é usada pelo autor com o sentido de referir as competências que os profissionais revelam em situações caracterizadas, muitas vezes, por serem únicas, incertas e de conflito. O conhecimento que emerge nestas situações de um modo espontâneo e que não se é capaz de explicitar verbalmente pode ser descrito, em alguns casos, por observação e reflexão sobre as ações. Os pressupostos de Schön são apoiados na herança do pensamento de Dewey acerca da reflexão aplicada às questões educacionais, sendo que sua proposta central centra a aprendizagem prática na “reflexão-na-ação”, como alternativa para a formação do profissional reflexivo.


Paulo Freire


Nasceu na cidade de Recife / Pernambuco em 1921 e faleceu em São Paulo em 1997. 
Estudou Direito na Faculdade de Direito do Recife. Em sua vida trabalhou como professor em escolas, dirigiu o departamento de educação e cultura do SESI (Serviço Social da Indústria), coordenou o Programa Nacional de Alfabetização, foi Secretário Municipal da Educação de São Paulo e assessorou projetos culturais na América Latina e África. 
Foi um importante educador brasileiro que se preocupou com a consciência do educando sobre sua cidadania e seu papel na sociedade. Para o autor, a educação é um ato político que deve buscar conscientizar as classes populares, chamadas por ele de oprimidas. Sua principal teoria refere-se à pedagogia da libertação, a qual versa sobre essas convicções do autor e como a educação pode libertar os cidadãos oprimidos. 
 O ponto de partida de seus estudos foi a alfabetização de jovens e adultos, buscando uma alfabetização crítica, que levasse o educando a renovar seus instrumentos de leitura, inserindo-se na sociedade. Assim, a educação para Paulo Freire está sempre ligada à cultura e às práticas sociais. Para ele, as práticas pedagógicas tornam-se libertadoras, ao mesmo tempo em que problematizam o contexto dos alunos, baseando-se na inquietude do pensamento e tornando o indivíduo consciente de si e de suas ações. De acordo com o autor, o professor precisa ser consciente de sua autonomia, enquanto capacidade de decidir e assumir a responsabilidade de educar. Somente assim, o educador poderá respeitar a curiosidade e a linguagem do educando, flexibilizando e problematizando suas práticas. 
Sua principal obra é Pedagogia do Oprimido, lançada em 1969, na qual está detalhado o método de alfabetização de adultos. Já sua última obras foi Educação e atualidade brasileira, publicada em 2001.


Pierre Bourdieu

Nasceu em Denquin – França, em 1930 e faleceu em Paris / França em 2002. Foi um importante sociólogo francês. 
Fez os estudos básicos num internato em Pau, experiência que deixou nele profundas marcas negativas. Em 1951 ingressou na Faculdade de Letras, em Paris, e na Escola Normal Superior. Três anos depois, graduou-se em filosofia. Prestou serviço militar na Argélia (então colônia francesa), onde retomou a carreira acadêmica e escreveu o primeiro livro, sobre a sociedade cabila. De volta à França, assumiu a função de assistente do filósofo e sociólogo Raymond Aron (1905-1983) na Faculdade de Letras de Paris e, simultaneamente, filiou-se ao Centro Europeu de Sociologia, do qual veio a ser secretário-geral. Bourdieu publicou mais de 300 títulos, entre livros e artigos. Fundou as publicações Actes de la Recherche en Sciences Sociales e Liber e presidiu o CISIA (Comitê Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos), sempre se posicionado claramente contra o liberalismo e a globalização. 
Foi docente na École de Sociologie du Collège de France. Desenvolveu, ao longo de sua vida, diversos trabalhos abordando a questão da dominação e é um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política. Também escreveu muito sobre a Sociologia da Sociologia. 
 O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido à luz de três conceitos fundamentais: campo, habitus e capital. 
Uma das mais importantes questões na obra de Bourdieu se centraliza na análise de como os agentes incorporam a estrutura social, ao mesmo tempo que a produzem, legitimam e reproduzem. Neste sentido se pode afirmar que ele dialoga com o Estruturalismo, ao mesmo tempo que pensa em que espécie de autonomia os agentes detêm. Bourdieu, então, se propõe a superar tanto o objetivismo estruturalista quanto o subjetivismo interacionista (fenomenológico, semiótico).


Maurice Tardif


É filósofo, sociólogo e investigador canadense. Professor da Universidade Laval, em Quebec, e da Universidade de Montreal, onde leciona sobre a história do pensamento pedagógico. É membro de diversos grupos, comissões e associações de investigação sobre o trabalho docente e participa com frequência de debates internacionais sobre as reformas do ensino e da escola. 
Suas pesquisas são voltadas para evolução e a situação da profissão docente, além da formação de professores e os conhecimentos de base da docência. Para o autor, a docência é uma profissão de interações humanas. Nesta perspectiva, segundo Tardif, as ações do professor se constituem de forma completamente diferente de qualquer outra profissão. “Esse profissional precisa realizar um trabalho interativo com os alunos, como objetos de sua ação docente”. 
 Esta interação constante e intensa entre os atores da educação é que norteará o trabalho na sala de aula. Assim, “o planejamento pedagógico se dará em um processo dialético, contínuo e em constante elaboração, considerando o pensamento do aluno e compondo, através da observação e da intervenção, o contexto das ações na sala de aula”, ensina Tardif. 
É na mesma linha de Paulo Freire que Tardif vê o professor como agente de mudanças e intelectual engajado. Contextualiza a prática docente com a cultura local, abrindo possibilidades de entendimento de como os saberes docentes são construídos. Para o autor, o saber também é um “constructo social, produzido pela racionalidade concreta dos atores, por suas deliberações, racionalizações e motivações que constituem a fonte de seus julgamentos, escolhas e decisões”.


Dermeval Saviani


Nasceu em Santo Antônio de Posse –São Paulo, em 1944. 
Formado em filosofia pela PUC-SP, é doutor em filosofia da educação e livre-docente em história da educação, tendo realizado “estágio sênior” na Itália em 1994-1995. De 1967 a 1970, lecionou nos cursos colegial e normal. Desde 1967, é professor no ensino superior. 
Autor de grande número de trabalhos publicados, atualmente é professor emérito da UNICAMP e coordenador geral do Grupo Nacional de Estudos e Pesquisas História, Sociedade e Educação no Brasil. 
Considerado filósofo da educação e/ou pedagogo latu sensu, fundador de uma pedagogia dialética, que denominou Pedagogia Histórico-Crítica. 
Sempre defendeu de forma sistemática e intransigente a escola pública e preocupou-se com o alcance político da ação pedagógica enquanto estratégia de construção da contra ideologia, sem, no entanto confundir esta ação com uma ação propriamente política. Sua atividade intelectual, sempre a serviço da contra ideologia, destina-se a explicitar valores necessários à libertação dos oprimidos. Esse caráter de solidária militância é um traço fundamental que marca sua obra. Os acontecimentos políticos e os eventos históricos que constituem a história da sociedade brasileira e que direta ou indiretamente marcaram a educação nacional sempre estiveram presentes no pensamento de Saviani, que em todas as obras se preocupou em analisar a prática educacional inserida num processo político-social, com uma visão de organicidade do pensar sobre a ação e sob a perspectiva da globalidade. 
 Outra peculiaridade da obra de Saviani é a grande quantidade de textos elaborados com um objetivo pedagógico, enquanto resposta a sua atuação como professor em sala de aula e sua interação com os alunos. A elaboração destes textos pedagógicos suscitou condições de criação de uma obra que transcende os limites críticos da realidade.  




domingo, 19 de janeiro de 2014

SER PROFESSOR: Identidade docente, permanência na profissão e superaração das adversidades

Alexandro Muhlstedt

INTRODUÇÃO

Ser professor não se configura como uma opção profissional para grande parte dos jovens hoje. Pesquisas têm mostrado que nem mesmo o próprio magistério, habilitação a que se destina seu curso superior, não é, para muitos alunos dos cursos de licenciatura, uma alternativa sedutora ou um projeto de vida profissional (DINIZ-PEREIRA, 2011). Isso torna-se um problema, considerando que “assumir-se enquanto professor e optar conscientemente por um curso que o credencie para o exercício da profissão é um dos primeiros passos na direção da construção da identidade docente. Tal reconhecimento e escolha estão hoje comprometidos em função da representação social da profissão, fortemente marcada por um sentimento de inferioridade, mediocridade e incapacidade” (DINIZ-PEREIRA e FONSECA, 2001, p.58).
Com a intenção de dar continuidade à pesquisa feita junto a um grupo de 38 professores que atuam na escola pública estadual de Curitiba - Paraná, na qual, num primeiro momento, perguntou-se como se deu a escolha da profissão, é que, num segundo momento foi perguntado a este mesmo grupo o que os mantém na profissão e quais seriam as principais dificuldades no cotidiano de seu fazer pedagógico. Ou seja, tendo em vista que o magistério não tem sido uma escolha profissional atrativa, interessa investigar o que este possui de positivo na visão daqueles que o escolheram, e quais seriam os problemas concretos que afetam as práticas docentes.

1. A construção da identidade docente

A formação inicial pode contribuir para que o futuro professor construa uma “[...] bagagem sólida nos âmbitos científico, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal que deve capacitá-lo a assumir a tarefa educativa em toda sua complexidade, atuando reflexivamente com a flexibilidade e o rigor necessários” (IMBERNÓN, 2002, p. 60). Para Tardif (2011, p. 31), “ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos. Esta impregnação do trabalho pelo ‘objeto humano’ merece ser problematizada por estar no centro do trabalho docente”. Depreende disso que ser professor é uma atividade profissional que exige uma sólida formação acadêmica para possibilitar a formação da novas gerações.
Tardif e Raymond (2000) destacam a importância da escolarização inicial na construção das representações sociais que se tem da profissão. Segundo os autores, antes de começarem a trabalhar, os professores já passaram longos anos imersos na escola e nesse processo de socialização escolar construíram uma bagagem de conhecimentos que tem grande permanência no tempo, atravessando, sem mudanças substanciais, os processos de formação inicial. O ingresso na carreira e no espaço de socialização profissional, na instituição escolar, é marcado pelas tensões e contradições, conflitos, acordos e acomodações resultantes da assimilação dos valores e regras específicos da organização escolar. Afinal,

É nas relações intersubjetivas, entre atores que têm diferentes trajetórias, objetivos e perspectivas, ocupam posições com níveis de poder desiguais, convivendo num espaço físico e simbólico, que as expectativas e papéis institucionalizados vão sendo ressignificados e reconstruídos, permitindo a emergência dos processos partilhados de significação que constituem a unidade de cada escola, orientando e dando sentido às ações de seus membros (SARMENTO, 1994).

Esses pressupostos, largamente estudados nos últimos tempos, levam a considerar que ser professor significa tomar decisões pessoais e individuais constantes, porém sempre reguladas por normas coletivas, as quais são elaboradas por outros profissionais ou regulamentos institucionais. Embora se exija dos professores uma capacidade criativa e de tomada de decisões, boa parte dessa energia acaba por ser direcionada na busca de solução de problemas de adequação com as normas estabelecidas exteriormente. E, de modo contundente, acaba sendo o elemento que constitui a identidade profissional.
De acordo com Ciampa (1992), o processo de constituição da identidade ocorre no interior das relações socialmente estabelecidas, cuja negação do outro e afirmação de si mesmo como indivíduo é, ao mesmo tempo, negação de si mesmo e auto-afirmação como ser social. Dessa forma, a construção de uma determinada identidade perpassa pela inserção em um grupo social. No entanto, esse processo não significa o alocamento do indivíduo a um substantivo (eu sou “professor”, eu sou “engenheiro”, eu sou “médico”), mas, ao contrário, a constituição da identidade se materializa pela intervenção do indivíduo no mundo e nas relações com outros sujeitos.
A constituição da identidade é um processo de permanente construção inserido nas contradições do modo de produção vigente. Construção de identidade não é algo posto/dado como aquilo que o sujeito tem que ascender, mas sim um contínuo processo situado nas relações que o indivíduo estabelece com outros e que se remete necessariamente a um determinado projeto político.
Nesse sentido, a constituição de uma identidade política dos trabalhadores da educação significa a afirmação desses como agentes históricos ligados a um projeto de classes que é antagônico ao atual modelo de sociedade. A luta, a resistência, as formas de se posicionar, de pensar e de expressar os conflitos e contradições da sociedade de classes constituem elementos que compõem a identidade política dos trabalhadores.

2. A identidade profissional e o (des) prestígio da docência

O prestígio de uma profissão, segundo Nóvoa (2011), depende em parte da visibilidade social e, no caso dos professores, depende da qualidade do trabalho interno nas escolas e da sua capacidade de intervenção e de presença no debate público da educação, o que implica trabalho político para conscientização da relevância da educação na contemporaneidade, ao combater a ideia de que ensinar é uma tarefa fácil, que o ensino é uma atividade natural ao alcance de qualquer um. Para isso, o autor entende que é necessário reconhecer e valorizar o ensino, enquanto atividade que exige a compreensão de determinado conhecimento (disciplina) e de sua reelaboração (transformação) no ato de ensinar e compreensão sobre os alunos e seus processos de aprendizagem.
Sabe-se que a identidade do professor constrói-se a partir da relevância que cada profissional dá a sua própria atividade docente, através de valores, atuação no mundo, das representações de vida, saberes, sentimentos, expectativas presentes no seu cotidiano, com as relações estabelecidas enquanto seres como um todo, dentro das escolas, sindicatos e também as relações entre os próprios professores. Além de todos os discursos, existe a experiência de vida que influi na formação da identidade. A realidade existente se mostra através de situações veiculadas na sociedade tais como: baixa remuneração, salas de aula com alunos turbulentos e em alguns casos falta de material didático.
A presença de uma identidade própria para a docência aponta a responsabilidade do professor para o seu papel social, emergindo daí a autonomia e o comprometimento com aquilo que faz. Porém, é importante salientar que o professor adquire estes quesitos por meio da formação escolar, formação inicial, experiências adquiridas, processos de formação continuada, influências sociais, entre outros. De fato este processo está fortemente atrelado à cultura que se apresenta na sociedade.
A identidade pessoal e a identidade construída coletivamente são essenciais para definir a identidade profissional do indivíduo, a esse respeito Pimenta (1997) define que a identidade profissional

[..] se constrói a partir da significação social da profissão [...] constrói-se também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor. Assim, como a partir de sua rede de relações com outros professores, nas escolas, nos sindicatos, e em outros agrupamentos (p. 07).

Por isso, quando se trata da identidade de professores, sujeitos sociais que partilham espaços, tempos e representações sociais na/sobre a escola, não se pode deixar de considerar que o contexto mais amplo em que estes sujeitos estão inseridos interfere profundamente em suas expectativas e percepções. Isso quer dizer que a antiga imagem de um professor como símbolo da autoridade e da providência moral tem sido substituída pela imagem de um adversário a ser derrotado pelo aluno; a imagem da escola como ambiente seguro onde crianças e jovens poderiam desenvolver os valores morais e democráticos é substituída pela imagem de um território conflagrado; a imagem do aluno como aprendiz dócil a ser encaminhado para vida em sociedade é substituída pela imagem de um aluno rebelde, problemático, portador de todos os vícios e de nenhuma virtude. Os extremos dessas “representações” não deixam dúvidas de que as expectativas em relação à escola, alunos e professores mudaram radicalmente.
A representação de “ser professor” assume outros sentidos para os quais nem sempre os candidatos ao magistério estão devidamente preparados. Essas mudanças podem ser explicadas, de acordo com Law (2001) a partir de três aspectos:
1. a identidade dos professores deve ajustar-se à concepção de educação da nação;
2. uma das formas de acompanhar a escola e os professores é a criação de mecanismos, através do discurso oficial, que sejam capazes de monitorar a identidade dos professores;
3. a identidade de professores pode, de forma sub-reptícia, ser manobrada a favor de interesses que não são necessariamente dos próprios professores e dos demais sujeitos que partilham o espaço escolar.
E a esses aspectos, é possível também analisar a compreensão da profissão pela visão adotada pelos docentes que, do seu ponto de vista, o identifica e propicia manter-se na profissão.

3. A pesquisa

A fim de analisar a percepção que profissionais que atuam na docência, na rede pública estadual do Paraná, têm, a respeito da própria profissão, foi proposto a um grupo de professores responder as seguintes questões: 01. Quais são os motivos que o mantém na profissão docente? e 02. O que é mais desgastante na profissão docente?
As questões solicitadas foram publicadas como link do Google Drive, no blog: www.docentescep.blogspot.com, as quais puderam ser respondidas entre os dias 02 de outubro a 24 de novembro de 2013.
A partir das perguntas sugeridas, respondidas por um grupo de 38 professores, de diversas disciplinas e diferentes tempos de atuação, foi possível analisar as respostas para a primeira questão sob três dimensões: Uma dimensão que demonstra motivos relacionados à identidade do professor enquanto trabalhador, dimensão na perspectiva de professor com identidade cientista e uma terceira dimensão que se relaciona à identidade profissional de educador; e para a segunda pergunta, foi possível perceber as respostas em dois campos distintos: um primeiro campo diz respeito às dificuldades oriundas do próprio sistema público de ensino (governo), burocracia e espaço físico da unidade escolar e outro campo relaciona-se com os comportamentos dos alunos e seus pais.
Essa análise mostrou que as formas pelas quais o professor socializa-se profissionalmente são fundamentais no fortalecimento da identidade docente e que a percepção de si mesmo colabora para construir a sua visão da profissão e a determinar motivos para continuar atuando na docência. Ao serem questionados sobre os principais problemas ou adversidades existentes na profissão, deixam claro que a perda da autonomia, as dificuldades de relacionamento com os alunos, outros professores e pais de alunos, bem como o descaso dos governos, podem fragilizar a identidade docente comprometendo o seu envolvimento com a profissão e o trabalho.
Esta pesquisa apoia-se na vertente da pesquisa qualitativa, da qual se utilizou a técnica de coleta de dados de um grupo focal, situada aqui para além de uma entrevista em grupo, onde a voz de cada participante é primordial. Partindo desse pressuposto, as falas dos participantes do grupo focal vão sendo apresentadas, optando-se pelo seu anonimato. A pertinência desta técnica responde pelas suas possibilidades de “compreender processos de construção da realidade por determinados grupos focais, compreender prática cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes (...) representações e valores” (GATTI, 2005, p. 11).

4. Análise das respostas para a Questão 01: O que mantém o professor na profissão

Os impactos da reconfiguração do mundo contemporâneo, notadamente ao longo da última década do século XX e primeira década do século XXI, evidenciaram-se nas representações cada vez mais negativas sobre a função docente. A escola, tradicionalmente marcada pelas possibilidades de ascensão social e de superação das desigualdades sociais, tinha no professor a imagem da autoridade constituída capaz de conduzir jovens e crianças ao convívio social e à vida em democracia. Essas práticas democráticas são marcadas pelas formas como os sujeitos as representam socialmente; a escola e os professores têm um papel fundamental na construção dessas práticas. Assim, pode-se definir identidade como um conjunto de características pelas quais alguém pode ser reconhecido. Do ponto de vista sociológico, identidade pode ser definida como: Características distintivas do caráter de uma pessoa ou o caráter de um grupo que se relaciona com o que eles são e com o que tem sentido para eles. Alguns autores consideram que a identidade não é exclusiva do campo individual, mas também do coletivo, a identidade coletiva não é decorrência direta da individual, mas possui outro “sistema de relações ao qual os atores se referem e em relação ao qual tomam referimento” (VIANNA, 1999, p. 52).

4.1. Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto trabalhador

Os professores são em geral funcionários públicos ou empregados de instituições privadas que cada vez mais trabalham submetidos a orientações e controles exteriores. Segundo Nóvoa (2008), a crise de identidade dos professores, objeto de inúmeros debates ao longo dos últimos vinte anos pelo menos, relaciona-se com uma evolução que foi impondo a separação entre o eu pessoal e o eu profissional desses sujeitos. Para esse autor, a transposição dessa atitude do plano científico para o plano institucional contribuiu para intensificar o controle sobre os professores, favorecendo o seu processo de desprofissionalização.
É nesse contexto que a tese da tendência à desprofissionalização surge com bastante força, a despeito da profissionalização em si não ter sido sanada.
A ameaça à proletarização, caracterizada pela perda do controle pelo professor sobre o seu processo de trabalho, contrapunha-se à profissionalização como condição de preservação e garantia de um estatuto profissional que levasse em conta a autorregulação, a competência específica, rendimentos, licença para atuação, vantagens e benefícios próprios, independência etc. A discussão acerca da autonomia e do controle sobre o trabalho é, então, o ponto essencial.

O aumento do assalariamento e a entrada dos profissionais em organizações teriam como principal consequência a proletarização técnica – perda do controle sobre o processo e produto do seu trabalho – e/ou a proletarização ideológica – que significa a expropriação de valores a partir da perda de controle sobre o produto do trabalho e da relação com a comunidade (RODRIGUES 2002, p. 73).

A confluência das teses da profissionalização e da proletarização coloca em evidência o problema da identidade do magistério. São trabalhadores que não se veem plenamente como tal, pela herança e tradição que tem o magistério na noção de vocação e sacerdócio. A identificação como trabalhadores os remetem à condição economicamente determinada de que estão inseridos em relações objetivas e são contratados para executarem suas atividades ao longo de uma jornada, de forma subordinada, recebem um salário e do seu trabalho é retirado mais-valor. Esta identificação é objeto de fortes resistências, possivelmente por retirar esses trabalhadores do seu lugar tradicional.
Referente a essas questões foi possível selecionar um conjunto de respostas de parte do grupo de professores que dizem manter-se na profissão docente em função de uma identidade política, de trabalhador. Nessa dimensão foram agrupadas as respostas que revelaram os aspectos sobre tempo de serviço, aposentadoria, número de horas trabalhadas semanalmente, licenças, concurso e estabilidade no emprego.

Em primeiro lugar o amor que tenho pela profissão, depois aparecem o salário, a carga horária, (tenho só 20 horas), dessa forma tenho tempo livre para fazer o que preciso sem faltar ao trabalho.

O salário, comparado aos outros membros da minha família é um dos melhores. Já estou estabilizada como profissional.

Financeiramente está compensando, tenho projetos que pretendo realizar com esse dinheiro. Mesmo assim acredito que minhas aulas valem muito mais e devo, devemos lutar por melhores salários.

Do ponto de vista prático, flexibilidade de horários.

Penso que hoje é porque trabalho apenas 20 horas e consigo dar conta do recado do jeito que acho que é preciso, mas me privo de uma qualidade de vida melhor, ou seja, o salário não colabora muito, mas penso que o dia a dia do professor exige muito, exige um equilíbrio emocional, exige profissionalismo, o que falta muitas vezes pelo excesso de carga horária.

Apesar de todas dificuldades, principalmente com a família do aluno, não gosto de grandes mudanças, não sou adepta a mudanças radicais. Outra questão é que em todas as profissões existem dificuldades, e para me aventurar em outra profissão que pague o eu ganho hoje teria de sair para outra cidade. E por fim, gosto de ser professora, me sinto realizada apesar das dificuldades.

Pelo simples prazer de ter essa profissão, de ser professora! O que sempre quis ser. Gosto do que faço. Trabalho a 27 anos como professora. Sempre em sala de aula.

Estou no fim da carreira, meu salário está satisfatório e gosto do convívio com os alunos.

Falando a verdade, continuo por conta que está próximo de me aposentar.

Hoje é a questão de ser concursada e o mercado de trabalho estar competitivo.

Segurança de emprego, salário razoável se comparado ao mercado e liberdade na execução do serviço.

4.2. Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto educador

Quando o professor se percebe como o possuidor de uma “missão redentora” da educação, pode-se inferir que a representação do que é ser professor tem sido construída e reconstruída alicerçada nas expectativas que o conjunto da sociedade tem em relação ao professor (que também podem ser compreendidas como representações sociais) e no próprio repertório adquirido ao longo da formação inicial. Na dimensão de uma identidade de educador, o professor tem em suas práticas educativas a realização de experiências de natureza teórico-vivencial que se nutrem com os saberes instituídos, mas procuram, cotidianamente, recriá-los e ressignificá-los contextualmente buscando atingir caminhos mais vastos da sabedoria. Desse modo, as práticas educativas vislumbram muito mais que a mera instrução para os papéis e funções sociais, elas conduzem os indivíduos para a formação da inteireza do ser entrelaçando razão e intuição, corpo/emoção e mente/espírito.
Pelas respostas dos professores do grupo focal, foi possível identificar ações docentes que o definem como educador. Nesse sentido, o professor educador celebra paixões, realça a busca do qualitativo, da globalidade do ser, da dignidade e da beleza humana; passa pelo já instituído e busca instituir novos saberes e sentires procurando rasgar os papéis e as máscaras que empacotam e escondem, instigando a autenticidade, o espírito criador e transgressivo, reinventa permanentemente seus procedimentos, renovando-se e reencantando-se com o aprendizado vigoroso de cada experiência vivida, tece aulas imprevisíveis, abertas ao fluxo das aventuras, ruminando o saber com sabor, convertendo-as em vivências vívidas e encantantes; em constantes ritos de iniciação e de renovação dos pensares e sentires, ousa as veredas ainda não trilhadas, mais desafiantes e difíceis, inaugurando caminhos novos, extraordinários, fundamenta-se em lógicas dialógicas, flexíveis e includentes, concebe a necessidade mínima de burocracia, sendo esta, mero instrumento que deve estar a serviço dos direitos e liberdades fundamentais do ser humano, busca as competências técnica e teórica, mas, principalmente, as competências éticas e estéticas, as inteligências cognitiva, intuitiva e emocional, prima pelos princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta sensível, assume as múltiplas dimensões do humano, passando pelo instinto e atingindo o coração e o espírito de fineza, fomentando a solidariedade e a amorosidade.
Paulo Freire ensina que não há docência sem discência (FREIRE, 1996, p.23). Portanto, o educador deve refletir constantemente sobre a relação teoria e prática, ou seja “(...) quem forma se forma e reforma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado” (FREIRE, 1997. p.25). Há, portanto, uma ligação entre o aprender e o ensinar. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.25).
Nessa dimensão ficaram agrupadas as respostas que revelam posicionamentos idealistas e sentimentais, uma relação humana entre o fazer pedagógico do professor e seus alunos.

São inúmeros os motivos, estar diariamente em contato direto com crianças e adolescentes, e ao mesmo tempo ensinar e aprender, gostar muito do ambiente da escola e sua movimentação em todos os sentidos.

Colaborar mesmo que minimamente na melhoria da qualidade de ensino, no incentivo à busca do conhecimento, enfim, por amar demais o que eu faço.

Os motivos que favorecem em acreditar no processo educacional, com pretensão de desenvolver sempre o melhor trabalho no espaço da sala de aula, pelo fato de buscar mecanismos que possibilitem uma formação continuada adequada a realidade contemporânea.
Nesse sentido, acreditar hoje e sempre na formação humana dos estudantes, bem como na relevância social e intelectual como princípio norteador da prática pedagógica, ou seja um compromisso político, pedagógico e social com a educação brasileira. Assim, tais questões vêm favorecendo para sonhar sempre com um mundo mais humano e justo!

Gosto pela profissão, me sinto bem em estar ao lado dos estudantes, funcionários e professores (aqueles motivados, interessados e comprometidos com sua profissão e com a educação escolar). Não tenho mais a intenção e o ideal de mudar a sociedade por meio da educação escolar, sei que uma mudança efetiva, que vise a igualdade das condições de acesso aos bens culturais, de direitos e deveres às pessoas não será alcançada somente por meio da educação. Entretanto, sei que, por meio do meu trabalho, se bem planejado, coerente e comprometido para com as pessoas, posso auxiliar sobremaneira na vida delas, na minha e daqueles que estão à nossa volta. Ainda estou na profissão docente por que gosto do que faço, faço com entusiasmo, carinho e vontade. Preparo as aulas que sempre quis que meus professores desenvolvessem comigo e que muitos dos estudantes de agora gostariam que fossem desenvolvidas. Enquanto tiver este entusiasmo e vontade vou continuar na profissão. Quando não tiver mais brilho no olhar, criatividade e vontade sei que será a hora de parar e fazer outra coisa.

Porque acredito na educação. Me realizo com meu trabalho.

Acreditar que mesmo diante das dificuldades ainda vale a pena.

Porque acredito fazer a diferença, mais do que transmitir conhecimento me fascina o fato de poder trocar experiências.

Ser docente nos aproxima mais das pessoas como seres humanos.

Acreditar, ainda, que é através e pela educação que transformaremos simples pessoas em cidadãos críticos atuantes realmente na sociedade.

É acreditar que apesar de muitas turbulências, a educação é primordial para a formação do cidadão, que acredita e participa da construção de seu país e tem orgulho de ser chamado de brasileiro.

Realização profissional: a cada dia que passa minhas aulas são melhores, sinto isso no interesse que despertam nos alunos, eles já chegaram a me aplaudir ao final da aula.

A satisfação de poder ensinar aos outros o que um dia a mim foi ensinado e, mesmo com tantas dificuldades que enfrentamos nesta profissão, o contato e a convivência com os alunos.

Vontade de ajudar na melhoria da educação, enfim, estou feliz por isso, continuo.

Eu gosto do que faço!

O gostar do que faço; a possibilidade de acompanhar o crescimento e amadurecimento pessoal e de conhecimento dos alunos; a utopia da educação como processo de transformação pessoal e social.

O gostar do que faço e do meu trabalho. Amo meu trabalho e minha profissão. Escolhi minha profissão. Desde pequena queria ser professora e "queria educar as bonecas". Hoje em dia, apesar da grande dificuldade da arte educar, busco enriquecer meus conhecimentos a cada dia para poder superar as expectativas e dificuldades encontradas. Mas o amar meu trabalho é o que mais me fortalece para me manter nesta profissão que a cada dia se torna mais difícil pelos problemas gerados na sociedade.

Sou apaixonada por "ensinar"; Estar ensinando é estar estudando, e isto é muito bom. Mesmo assim busco outra opção, apesar que minha formação limita as oportunidades.

Ainda gosto da magia da sala de aula. Quanto mais estudo (porque nunca parei) mais gosto de compartilhar o conhecimento. Não tem nada melhor do que uma aula bem aproveitada com participação(dos alunos), com debate, com aquele comentário de alguns, muitas vezes na segunda feira: Professora, eu assisti na TV (pode ser no Faustão mesmo) a orquestra sinfônica que estudamos na última aula... e por aí vai.

Os agradecimentos dos alunos, principalmente quando passam no vestibular. são mínimos, demorados, mas sempre tem aqueles que agradecem.

A satisfação de ver um aluno evoluindo na sua aprendizagem, na vida, como você.

Na atualidade o maior desafio é a manutenção dos adolescentes no mundo esportivo. Hoje eles apresentam outras prioridades, namoro, estudo, idiomas, cursinho, shopping, cinema, internet, qualquer coisa menos treinar e ter responsabilidades. Contribuí diretamente na formação humana, valores obtidos através do esporte, disciplina, espírito de equipe, responsabilidade, compromisso e respeito.

4.3. Dimensão que demonstra a identidade do professor enquanto cientista

Um bom professor pode ser definido como o profissional que detém conhecimento sólido e atualizado em sua área específica – o cientista. Esse conhecimento é constituído por saberes reconhecidos e identificados como pertencentes aos diferentes campos do conhecimento (linguagem, ciências exatas, ciências humanas, ciências biológicas, etc.). Esses saberes, produzidos e acumulados pela sociedade ao longo da história da humanidade, são administrados pela comunidade científica e o acesso a eles deve ser possibilitado por meio das instituições educacionais. E é o professor que possibilita esse acesso.
Segundo Tardif (2002) “...um professor de profissão não é somente alguém que aplica conhecimentos produzidos por outros, não é somente um agente determinado por mecanismos sociais: é um ator no sentido forte do termo, isto é, um sujeito que assume sua prática a partir dos significados que ele mesmo lhe dá, um sujeito que possui conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua própria atividade e a partir dos quais ele a estrutura e a orienta.” Ainda de acordo com Tardif (2002) “...reconhecer que os professores de profissão são sujeitos do conhecimento é reconhecer, ao mesmo tempo, que deveriam ter o direito de dizer algo a respeito de sua própria formação profissional, pouco importa que ela ocorra na universidade, nos institutos ou em qualquer outro lugar”.
Até porque uma das tarefas no trabalho do professor é arranjar contingências que favoreçam a generalização dos conteúdos e habilidades aprendidos na escola para um ambiente natural. A partir das contingências organizadas em sala de aula, é preciso preparar o aluno para que ele possa enfrentar as contingências naturais da vida. O professor deve agir no sentido de tornar o seu aluno cada vez mais independente. Conforme descrito por Skinner (1972) “quanto melhor o professor, mais importante é que ele liberte o aluno da necessidade de auxílio instrucional” (p. 136).
Sobre isso, foi possível agrupar algumas declarações dos professores que responderam à pesquisa que demonstram uma identidade de cientista, ligada à socialização dos conhecimentos historicamente construídos e socialmente legitimados:

A certeza que a educação é o único meio pelo qual podemos transformar o mundo

Os anos de carreira, e por ainda acreditar que a educação (conhecimento) é a solução para o desenvolvimento de um país.

Vontade de retribuir de alguma forma, pelo conhecimento, as oportunidades que recebi.

Ensinar o que sei e perceber que o que foi passado foi aprendido é muito gratificante. Perceber os problemas da sala de aula e procurar uma forma de contorná-los torna a docência interessante, mas a vontade de ensinar é o maior motivo.

O interesse que alguns alunos demonstram por aprender.

Ainda acredito no ato de educar como uma troca de conhecimentos, e tento fazer com que meus alunos vejam em mim pelo menos 30% das qualidades que eu via em meus antigos professores.

5. Análise das respostas para a Questão 02: Os percalços da profissão docente

Para um grupo de 27 professores, de diferente disciplinas e tempo de atuação, foi perguntado o que seria mais desgastante na profissão docente, ou seja, ao pensar no cotidiano da profissão, o que existe que mais dificulta o fazer pedagógico docente.
A partir das respostas do grupo, também enviadas por meio da ferramenta blog, foi possível agrupar as respostas em dois campos distintos: um primeiro campo diz respeito às dificuldades oriundas do próprio sistema público de ensino (governo), burocracia e espaço físico da unidade escolar e outro campo relaciona-se com os comportamentos dos alunos e seus pais.

Dificuldades oriundas do sistema de ensino, falta de segurança, burocracia e espaço físico
Dificuldades advindas do comportamento dos alunos e seus pais
Lidar com o sistema, querer sempre culpar o professor. Exige-se muito e cumpre pouco.

A falta de comprometimento dos governantes com a educação.

A falta de segurança devido ao grande aumento de violência dentro e fora do ambiente escolar.

A falta de remuneração (baixos salários) para tantas horas de trabalho, caso o professor queira preparar boas aulas.
Espaço pedagógico precário, falta de tomada de atitude das direções escolares em muitas situações, pessoas que estão na escola só pra ocupar espaço, cumprem o protocolo de horários, sem se importarem em fazer algo para realmente auxiliar, nesse caso, em setores de parte pedagógica (professores, pedagogas , bibliotecárias ), falta de material extra para ser trabalhado com alunos, promessas não cumpridas dentre outras...

Laboratório de informática em péssimo estado.

Os livros de chamada, sem dúvida nenhuma! Os diários intermináveis de lançamento de conteúdos e preenchimentos de campos (repetidos) por várias páginas.

Burocracia na manutenção dos livros de chamadas.

O número de alunos em sala de aula, e muitas vezes a falta de suporte na parte pedagógica da escola, por falta de material humano.

Excesso de alunos em sala de aula (o ideal seria entre 15 a, no máximo, 20 alunos).




A falta de vontade dos alunos em aprender.

O desinteresse dos alunos em obter o conhecimento, pois muitos vem à escola porque são obrigados por lei.
Grande desinteresse dos alunos em estudar, pouco estudo.

Competir com os celulares dos alunos e o desinteresse deles por qualquer aula que eu prepare.

Alunos mal educados e sem limites.

Falta de perspectiva de vida.

Ter que cuidar de problemas familiares, pois os pais delegam para a escola o dever que é deles.

É falta de vontade dos alunos e a negligência dos pais.

A falta de comprometimento dos pais.

A falta da família na escola.

A falta de educação dos alunos, que trazem seus problemas de casa e você tem que "lidar" com eles. São problemas e frustrações que não fazem parte da aula, nem da sala de aula, mas que contamina, desvirtuando todo o processo ensino-aprendizagem. O professor acaba tendo que se voltar para questões existenciais, pois na escola está desembocando todo tipo de problema para a própria escola resolver.

A falta de respeito pelo profissional e de comprometimento com a escola, muitas vezes os alunos e a família veem o professor como seu inimigo e não como alguém que pode proporcionar um direcionamento positivo.

Perder muito mais tempo chamando a atenção dos alunos e tentando manter a ordem do que fazendo o que realmente estudamos e nos especializamos para fazer, que seria ensinar.

Educar ao invés de ensinar.

O maior desgaste ainda está em tentar resgatar o respeito mútuo em sala de aula, os alunos não possuem nenhum modelo de respeito vem de suas casas zerados, e é em sala que tentamos passar alguns conceitos básicos.

O descumprimento das regras preestabelecidas: uma laranja podre estraga todo o pacote.

Infelizmente hoje os percalços que encontramos são grandes: alunos sem condições de aprendizagem, sem atendimento, falta de limites, de educação.


5.1. Dificuldades oriundas do sistema de ensino, falta de segurança, burocracia e espaço físico

Nota-se, pelas respostas do grupo, que a maioria (17 professores) aponta como maiores dificuldades aquelas questões relacionadas à postura dos alunos: desinteresse, descomprometimento, falta de respeito, indisciplina, displicência, problemas familiares, atrelando isso ao posicionamento igualmente desinteressados dos pais. Aparece também um aspecto que é recorrente no discurso de professores que eles de “educar, ao invés de ensinar”, revelando com isso um posicionamento, de certa forma simplista, de que ser professor é apenas repassar conteúdos. Essa afirmação acaba sendo contraditória ao que a maioria respondeu na questão anterior (o porquê se mantém na profissão) na qual aparece a identidade de educador com expressivo número de professores.
Esses problemas citados, revelam, em certa medida, que o professor se vê imerso em situações de sala de aula nas quais não consegue resolver. Talvez um dos caminhos seria o fortalecimento de equipes e coletivos de trabalho a fim de problematizar com mais profundidade as angústias e dificuldades e, a partir disso, buscar soluções para resolvê-las.
Para tentar compreender esse suposto desinteresse dos alunos estudos1 tem mostrado que constantes ausências dos professores, problemas de infraestrutura do ambiente escola, questão da violência e do bullying e a repetência, são problemas que deixam claro que a escola precisa se aproximar da realidade dos alunos, entender as suas expectativas e anseios e envolvê-los nas questões escolares de forma a adequar melhor os projetos pedagógicos às necessidades. São problemas que, de certa forma, causam o desinteresse dos alunos e por isso mesmo é necessário garantir professores presentes e preparados, melhorar a infraestrutura, usar as novas tecnologias durante as aulas e zelar pela segurança no ambiente escolar. Aproximar a escola do universo dos alunos seria o maior desafio, pois estes devem ser, ao mesmo tempo, sujeitos e objetos da ação de seu desenvolvimento.
Evidentemente que, para promover um maior interesse dos alunos pelos estudos, os professores, em cada momento, devem utilizar a metodologia que pareça mais eficaz e motivadora, não devendo trabalhar apenas de uma forma. Devem utilizar procedimentos e métodos variados que consigam suscitar em seu aluno a vontade de aprender. Mesmo assim, considerando que a frequência à escola é compulsória, e que, portanto, não foi produto de uma escolha a participação no “jogo” escolar, pode-se ainda pensar que o alunado necessitaria de ampla gama de interesses externos ao campo escolar para aceitar que o que acontece ali é importante e que vale a pena continuar lutando.
E, ao forjar o desinteresse pelo conhecimento, a escola, na fala desse grupo de professores, devido ao seu padrão escolar de desenvolvimento de conteúdos, comportamentos e habilidades, cumpre a sua função social de conservação e sua função ideológica de legitimação (BOURDIEU & PASSERON, 2009). Solo fértil para se ver reforçado o ciclo reprodutor das desigualdades. E é claro que não basta observar os problemas e criticar, no caso o desinteresse dos alunos, é necessário assumir-se como parte da relação pedagógica, dos dilemas e problemas que o ensino-aprendizagem envolve, sendo fundamental assumir e agir responsavelmente.


5.2. Dificuldades advindas do comportamento dos alunos e seus pais

Já um grupo de 10 professores aponta questões internas (espaço físico, preenchimento de livros de registro de classe e número de alunos em sala) e externas (baixos salários, aumento da violência e descaso do governo) como principais problemas que dificultam a ação pedagógica do professor. São questões que mostram a falta de autonomia dos professores para solucionar os problemas percebidos. Essa falta de autonomia revela a perda de controle sobre o processo de trabalho, ou seja, o professor cita e vivencia o problema, sem no entanto conseguir desvencilhar-se dele ou resolver. Pode-se, a partir desses apontamentos, interpretar que as relações de trabalho na escola ocorrem como uma reprodução das relações de trabalho fabril. Uma grande ameaça que pode ser apontada é justamente perda efetiva de autonomia dos professores, muitas vezes concretizadas pela padronização de importantes processos, tais como o livro didático, as propostas curriculares centralizadas, as avaliações externas, entre outras. Essa padronização efetiva uma tendência crescente à massificação da educação, com prejuízos nas condições de trabalho para os professores, trazendo consigo processos de desqualificação e desvalorização do corpo docente.
Assim, esses arranjos e cobranças de cima para baixo que interferem no fazer pedagógico dos professores, exigem desses novas formas de construção de práticas e ações, a fim de melhorar as atuais condições de vida e trabalho a que estão submetidos. Dessa forma, um aspecto fundamental na organização dos professores diante dos conflitos e das relações de poder – e nesse trabalho o aspecto central – é o processo de construção da identidade política. Identidade política é aqui entendida como “processo de configuração da auto-consciência de um grupo em que ele elabora sua posição e ação diante dos conflitos e das relações de poder.” (MASCARENHAS, 2002, p. 15). Assim, a identidade política dos professores configura-se como um processo de construção permanente de um pertencimento auto-representado e auto-definido que se manifesta tanto nas ações como nos discursos dos sujeitos articulados a esse grupo. Tal perspectiva de identidade política dos trabalhadores rompe com a ideia de fragmentação em movimentos isolados e segmentados próprios desta quarta da história, retomando o trabalho como categoria central e fundante da constituição do homem como ser genérico. Afinal, o trabalho é o elemento constituinte da subjetividade dos sujeitos e possibilita a construção de grupos.

6. Considerações finais

Como as profissões são construídas pela ação dos atores é cada vez mais imprescindível criar espaços de reflexão e discussão, especialmente no interior das escolas, para fortalecer a ideia de pertença a um coletivo e também para que a “voz do professor” (GOODSON, apud NÓVOA, 1995) esteja mais presente no debate educativo. Em outras palavras, incentivar novos modelos de organização da profissão docente contribui para evitar indicadores de não profissionalidade.
Deve-se ter em mente que os professores exercem um papel insubstituível no processo da transformação social. A formação identitária do professor abrange o profissional, pois a docência vai mais além do que somente dar aulas, constituiu fundamentalmente a sua atuação profissional na prática social. Ressignificar a identidade do professor significa entender que a identidade do professor é uma só, constituída pela identidade pessoal e pela identidade profissional. Esta união é indissociável, da qual surge a identidade do professor, pois ele é uma pessoa, e uma parte importante dessa pessoa é o professor.
O professor do século XXI, deve ser um profissional da educação que elabora com criatividade conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. Nessa era da tecnologia, os professores devem ser encarados e considerados como parceiros/autores na transformação da qualidade social da escola, compreendendo os contextos históricos, sociais , culturais e organizacionais que fazem parte e interferem na sua atividade docente. Cabe então aos professores do século XXI a tarefa de apontar caminhos institucionais (coletivamente) para enfrentamento das novas demandas do mundo contemporâneo, com competência do conhecimento, com profissionalismo ético e consciência política. Só assim, estaremos aptos a oferecer oportunidades educacionais aos nossos alunos para construir e reconstruir saberes à luz do pensamento reflexivo e crítico entre as transformações sociais e a formação humana, usando para isso a compreensão e a proposição do real, sem deixar se seduzir pelos caminhos deslumbrantes dos anúncios publicitários, pelas opiniões tendenciosas da mídia.
É necessário que o professor esteja constantemente atualizando-se. É fundamental conhecer seus alunos, suas expectativas, sua cultura, as características e problemas, suas necessidades de aprendizagem. Deve também refletir permanentemente sobre sua prática, buscando meios de aperfeiçoá-la, bem como favorecer a autonomia dos alunos, estimulá-los a avaliar constantemente seus progressos e ajudá-los a tomar consciência de como é realizada a aprendizagem, valorizando todo o conhecimento que o educando já possui.
Enfim, a grande tarefa do professor, hoje, preocupados em viabilizar um amanhã mais eticamente humano, inclui a luta por políticas públicas de respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos como, entre outros, o da escola e do trabalho. Mas ao mesmo tempo que por uma política de estabelecimento de dar mais grandeza e não de subtrair dignidade humana. Finalmente, a escola deve ser um espaço coletivo de construção de direitos e deveres do cidadão, primando por valores éticos e morais, resgatando assim, o exercício da cidadania, da ação participativa, valorizando mais o diálogo, a escuta, a solidariedade e a criatividade..

7. Referências Bibliográficas

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1 É o caso da pesquisa “O que pensam os jovens de baixa renda sobre a escola”, realizada em 2012, feita com 1 mil estudantes de 15 a 19 anos do ensino médio de São Paulo e de Recife que descobriu as razões que desmotivam os alunos a frequentarem as aulas. O levantamento foi feito pela Fundação Victor Civita em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Banco Itaú e a Fundação Telefônica Vivo. Conferir pesquisa em http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/2012/pdf/relatorio_jovens_pensam_escola.pdf.